
Tragédia
Data 29/05/2023 23:18:02 | Tópico: Poemas
| Porque torno a te escrever se teus olhos verdes não irão ler Pois não se trata de escrever o que fomos tu e eu, certo dia Fosse pela tragédia de alguém que contasse alguma história Mas sou eu o que amanhece de olhos úmidos a cada manhã Como me pesa ter as asas úmidas, como me pesa esta pena Minha tragédia, razão do abismo, foi não poder despedir-me Não poder como a quem parte, desejar boa ventura, vá bem Foi apenas um adeus caprichoso, mas que nem mais importa
Não se conhece o que há depois da morte, qual sorte d’alma E depois que fechastes os olhos, ainda há cor? Ou há rumo? Aqui a tragédia decora o quadro e a caminhada fica tortuosa A lembrança é uma síntese vermelha, cravos sobre as águas No papel manchas negras para ocultar essa dor sem sentido E volta-se ao velho livro já lido uma e outra vez e mais vezes Que mesmo assim vai murchando qual secam as flores rosas Na paisagem crestada que, então, tem orlado minha estrada
Com remos de palavras venho remando entre ondas escuras E as sombras podem se confundir com o alento e com flores As flores que se alimentam de lágrimas, sem nunca ter nome Dos nomes e nomes que eu disse depois e só chamei o vazio Por vezes os poetas inventam palavras e as palavras mentem Ouvi teu nome e não estavas quando a morte bateu à porta A lembrança é a síntese de tudo, do olfato, do gosto, da pele É também da tragédia, o dia seguinte que jamais se quis ver
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