o descanso como o tempo, dói por isso fico agora a doer lentamente como fio de cabelo em refastelo com a brisa.
doer não é difícil
- dói-se quando se vê estrelas mergulhadas em manto noturno ou quando folhas secas arrastam-se na calçada e até quando pedras se rolam pro abismo.
é tão intensa a dor de ver o mar esticar suas ondas até à areia tanto quanto olhar o córrego lavar os seixos.
n' outro dia a dor percorreu forte o alvorecer quando uma flor se abriu para receber o orvalho e o sol surgiu para fotografar.
o tempo passa trazendo e deixando dor nas covinhas infantis e nas rugas anciãs e até quando o semblante pensante de uma senhorita se enquadra na janela.
como confetes a alma rasga-se em pedacinhos quando a lua expande-se como se quisesse engolir a Terra e esta sucumbi doloridamente à atração de se derreter em mar de prata...
tão viciante como o vinho doendo sua cor na perfeição transparente da taça é a necessidade de continuar a doer-se...