
Parto Do Poema
Data 15/02/2023 01:01:16 | Tópico: Poemas
| Parto do Poema do passado Com asas sobre o adro Ventos nos meus cabelos afro E adentro no poema no muro No poema alado Com a pena da pachorra Escrevo o poema do futuro Do urro do útero Ao parir o poema errado.
Sinto-me uma parte da laranja, Um pedaço de astro destacado De outros astros, quem se arranja De forma estranha do outro lado.
Sinto me um parto de planta Um parir de semente Que cai entre pedregulhos, Entre escórias e entulhos.
É uma dor inconveniente, Dor de rocha, dor de pano, De vento varrendo oceano. Sinto uma dor cor de gente.
Por vezes eu sinto um dente Do dia que amanhece sorriso De pente que penteia cometas; De peixes em lubricidade com rios.
Contorno a serpente no cio Rastejando entre vielas e ventres Entre cavernas calientes Segredando diferentes suspiros.
Pinto o silêncio com tintas De vidros transparentes Para que a aparência do som permaneça E cresça na mina que mina na mina da minha cabeça, Nas cercas brancas E nas verdes paredes Da minha mente que mente E te vende uma verdade Que foi mentira sempre.
Ria. Mas creia Que a centelha acesa Não cresce na mata Nem em campo de batata De quem nada semeia Ou de quem lavra E rastela castelos na areia.
Assim o poema já nasce torto Assim o sistema já nasce morto Um touro mocho no cerrado Nos topos dos serrados do M Na semântica manca do verso.
Sinto uma dor de parto de pedra Nascida na serra Na terra de mangue Com sangue de guerra Entre alamedas de abetos Cobertas de teias Das aranhas caranguejeiras Fúlgidos flagelos Das letras negras Do meu alfabeto, Das janelas abertas na capoeira.
Meu ventre se parte após o parto, Após o infarto E o que tenho É lume do lenho Engendrado que é tema E mistura de amônio e de estrela, De Antônio e de Estela, De anjo e demônio, De esfera e esterco Na natureza besta deste poema.
|
|