
O Censurado
Data 07/01/2023 22:29:56 | Tópico: Poemas
| Caiu num charco de desgraça o inútil Passou a vida a remar contra a maré Com um passo apressado e ruidoso O dia era-lhe sempre cinzento e fútil Já nem se tinha de pé, nasceu sem fé Uma mera sombra de espírito ocioso
O inútil até teve graça ao cair no charco Quando a maré inversa lhe sentiu o remo E o barulho trauteado de cada passo seu Na futilidade incolor no dia do ser parco Perdido na ondulação de viver no extremo Era o ócio a dar tudo que a vida não deu
A sua alma já entregue e enlameada Somava o corpo viciado ao ópio popular Que se apagava pelas quatro estações Aquela carne apodrecida e esquartejada Que os ossos teimavam em carregar Alimentava o olhar de outras emoções
A lama que lhe entrava pela alma suja Era um opiáceo a minar aquela casca Corroída por tanto vento e toda a água Ao anoitecer o insistente piar da coruja Consumia-se ébrio no odor da borrasca E o censurado morria-se assim de mágoa
|
|