
“são ratos, meu senhor …”
Data 03/05/2008 16:51:26 | Tópico: Poemas
| e se subitamente do meu regaço aberto dilatado tombassem a teus pés no chão da tua verdade pétalas, rosas delicadas, cristalinas, numa mansidão de gestos num milagre de mulher a parir flores?
rosas tenras, perfumadas, libertas em profusão de aromas e cor… pintarias um quadro de mim?!
talvez sim!
e, se de repente tragicamente de cada uma delas em cada uma delas, se esculpissem braços e pernas, bocas abertas em epopeias de brados e gritos se hasteassem corpos e estandartes e vozes de mensagens maiores no proclamar de direitos inolvidáveis de verdades proscritas de mentiras engendradas para enganar a adversidade da vida? o que dirias? diz!!!
talvez um nada, ficarias mudo, ou ignorante de ti, me olhasses de forma esquiva…
e se eu te mostrasse agora que cada uma delas (as minhas palavras) tem dentes e limalhas?
que as palavras com que te falo são retalhos varejos em tempestade de milhões de outras vidas?
rebobina de novo o filme… recomeça… atenta de novo e enxerga. olha por dentro de ti, olha aqui a teu lado e logo ali:
- do meu ventre e a teus pés, tombam guinchos aflitos de gentes de carnes anavalhadas a cada despedida sem contínuo ou futura jornada
não rosas … mas “ratos”
um batalhão de desempregados “ratos” por ti, por mim, condenados a mendigar a valeta a viver dentro do lixo nas fímbrias pendulares da nossa consistência e ai, buscar o sustento p’ra a sua própria vida …
e que, nesta hora inquieta, do meu colo e a teus pés eu, a insana poeta, a “poeta do amor”, os liberto e te digo:
“são ratos, meu senhor …”
são “ratos” aqueles que transporto no lado esquerdo do peito e aninho no regaço e, do meu jeito, a teus olhos aqui liberto se os transformo em rosas do teu e meu clamor!
“são ratos, meu senhor …”
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