
Pausa
Data 09/03/2022 01:53:44 | Tópico: Poemas
| Bebi do cálix da vida Jamais o cale-se da boca Ou o cale-se da alma Como a minha calma Que já me anda pouca.
Pausa.
Ouvi o cisne em canto. Um salmo de Davi. A tentativa, em vão, do esperanto Nos poemas de lemas que eu nunca Nem vi.
Para todo efeito uma pausa. Para cada coisa uma causa.
Para cada ato uma consequência Que anda me furtando a calma E o pouco que restou da minha Pouca paciência.
A espada, quando exposta à carne, sabe quem será a derrotada.
Ouça o que a língua te fala Ouça o que a razão não te diz Que onde anda o cavalo de Átila Não floresce mais jardim. Não ressuscita o Jesus.
Onde toca a mão humana Algo se apaga e reluz Algo seduz e se (te) engana. Tipo assim, Algo se contradiz Quando o coração se cala.
O homem que não deseja nada Não merece ser feliz.
Sinta o gosto do fel Daqueles filmes ruins Em tvs de tubo Sobre geladeiras com pinguins Em quartos de motel, Mas de motel chinfrim Que não tem papel Que não tem jardim Só algo cruel Que me morde o rim E o mais de mim.
Lembranças das primeiras alegrias, Das primeiras prostitutas que eu via nuas Das primaveras puras De roubar bandeiras (Coisas deste jaez) De beber com as putas Uma vez por mês.
Reminiscências das primeiras poesias, Dos encontros entre os amantes Da descoberta das consoantes E do encontro consonantal. Da recusa do outro Do recuo para o impulso Dos conhecidos da casa Desconhecidos no mundo
No universo do tudo Inveje o mundo do nada.
Que saudades que tenho De quando éramos lenho E das antigas moradas De paredes caiadas Com varanda e terreiro Pés de jaboticabas Que davam o ano inteiro Sem se ver outras iguais Esparramadas Entre as flores vermelhas Rescendendo nas laranjeiras Quando o vento beijava As folhas dos laranjais.
Da levada da chuva Em vilipêndio com a vala Que varria a calçada Que cingia o espelho semelhante a um véu De moça nova casada Que tingia de vermelho Um pedaço gostoso do ocaso do céu
De céu coberto de raios Que desabavam Derrubando estradas E os sonhos de quem sonhava seus planos que não davam em nada.
Davam dias de devaneios De sofrimentos medonhos Ensolarados Ou extremamente feios Ou dias de geada Que queimava a planta Que matava a mata Assim matando o gado.
E eu chorava quando lembrava Que quem acusa, defende. Que a boca que beija é a mesma Boca que ofende. Que a mão que bate é a mesma mão que afaga. Que a boca que beija é a mesma Boca que escarra.
Pausa. Pausa. Pausa
Redescobri as amizades estéreis e as ilusões perdidas Num livro de Balzac. Os primeiros passos, os primeiros beijos, os primeiros amores Ah, moun amour! Definitivamente a vida não é feita para amadores!
O mundo é feito de tudo, principalmente de dores Se cresce iguais aos cães e as magnólias Cada um de nós é de si os próprios atores E derrota é quando vencemos os outros e perdemos a própria vitória Já que muitas vezes derrotamos a nós mesmos Porque quando derrotamos alguém, perdermos também Perdemos tamanho Quando achamos que foi grandeza Perdemos nossa dívindade, nossa crença e nossa arrogante humanidade. Quem deixa de amar o outro, deixa de se amar Quem promete perdoar e não perdoa Se torna lagoa morta Porta fechada de casa não arejada Se torna escada que não leva a nada, de casa de empresária de armas louca e atormentada por fantasmas... De rainha portuguesa louca Entre gritos palacianos De Maria vai com as outras Dos desejos republicanos.
E haverá um dia, Depois destes bombardeios, Que se extinguirá, afinal Toda espécie viva E só restará A estampa de um animal Tatuada em uma nota de dinheiro.
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