
AURORA DO SEMÁFORO
Data 11/10/2021 00:55:42 | Tópico: Poemas
| O Sol derreteu escorrendo pelas frestas do céu onde os encanadores do estômago vêm praias, não pensem estes redentores do auto-perdão que vou mergulhar na piscina dentro de mim (não!) como querem os que passaram pela vida com olhos-turistas, não vou apagar meu fogo com o dinheiro que transborda o sangue dos desenterrados, sangue drenado nas represas da desumanização p'ra passagem do navio de intestinos penteados na escadaria da igreja estufada pelo arroz dos noivos do vício deixado aos filhos bastardos enquanto aos órfãos da pátria drogada e prostituída disputam a carniça aos urubus.
O corpo de bombeiros arde em chamas e o mercúrio transborda das represas, o exército guarda almoços importados e a multidão bêbada por mártires crucificando rebeldes nos matadouros, para deleite dos esqueletos abandonados.
Da vagina da avenida brota uma espiga de ferro parindo um semáforo vermelho como um olho do inferno flertando com olho solar dos cabisbaixos, engolindo a escuridão num ronco de cemitério.
E quanto mais se anoitecem como polvos pelo avesso mais o mundo é um atoleiro formado das almas dos que despiram o espírito e deixaram apodrecendo no chão
Nossas vidas sepultadas sob as letras nos papéis, e caminhamos por uma cidade cujos edifícios são as leis, das páginas dos jornais escorre o sangue do filho e do pai escorrendo belos bueiros como uma aurora marginal nascendo nas calçadas, o céu sórdido dos que brotaram no túmulo carnavalesco da civilização e que não passa de um curral de bois atolados na baba do delírio (1.979)
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