
Angina
Data 25/03/2021 22:06:41 | Tópico: Poemas
| Se um dia eu já houvera dito algo sobre dias de chumbo Jamais imaginei quão mais plúmbeos que poderiam ser Numa tarde qualquer em que o sol não vencia a neblina E já caminhava de forma lenta e seguramente ao zênite Vem um inesperado relâmpago que me trespassa o peito Do nada espalhando trovões de dor lancinante e amarga Fixando meus olhos estupefatos na mesmice dos azulejos Para ver suas linhas antes retas se ondularem em zig-zag O suco de caju que fazia e ia adoçar restou-se sobre a pia Acre como o espanto e o fel que roubava cada gota de ar As mãos em desespero revolviam-se em busca de resposta Na minha mente estavam as crianças na sala ora solitárias Como lhes dizer que sentia minha vida indo e se esvaindo Por uma fresta oculta no peito que o meu destino escolheu Entro na sala com a sombra da morte já estampada na face Que não era possível esconder e o menino desaba lágrimas Roubo-lhe a meninice, para evitar a tristeza de ver-me cair Na partida que meu temor antevê: vai agora olhar sua irmã Ele em prantos me abraça: vai filho ficará tudo bem, vai sim Não temia ir-me, mas que não lembrem de mim ao crescer. Que minha presença se limitasse a fotos ou histórias frias Tudo se apaga brevemente e depois das sirenes, nova vida. O que foge da compreensão inda flutua diante meus olhos Sem respostas, cumpre galgar o conhecimento a cada dia E assim Deus inicia-me um novo episódio. Que assim seja. Há 6 anos eu deixava o hospital depois do primeiro infarto, acreditava que tudo seguiria bem...
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