
A ressurreição dos fantasmas
Data 19/06/2020 07:34:57 | Tópico: Crónicas
| Como a época das pinhas está em baixa, vou a banhos. Há uma ria junto a um mar onde é costume ir em pelota. Vai-se manter anónima para evitar predadoras sexuais. Entre banhos de dias ímpares veio-me aos ouvidos, sobretudo ao esquerdo que tem hipoacúsia, uma notícia que arrepiou a besta que vos escreve. Já nem me lembro no nome do branco que morreu sob o joelho de qualquer preto. Tantos sonhos por sonhar. Depois foi ver aquela gota de água a cair num copo a transbordar de ressentimento justificado. A escravatura dos tempos dos descobrimentos foi das mais sujas de sempre. Sempre houve escravos. Geralmente dos despojos de guerra de capa e espada, ou das invasões de territórios que chamamos brandamente de conquistas. Isto é, querias a terra do teu vizinho, matavas toda a gente e as crianças e as mulheres dos teus vizinhos tornam-se propriedade tua, assim como a terra inicialmente querida. Querido, não é? A que falo, procurava territórios. Mas também caçava os homens de determinadas características, para servir senhores déspotas. Ou dasputas. Para comercializar! A comunidade africana descoberta à altura, pacata, sem armas de fogo (avanço tecnológico terrível) limitou-se a temer pela vida e ver a sua trocada por dinheiro. E a acumular rancor. Quem não acumularia? Depois isto começou a incomodar os homens de bem. A carta dos direitos humanos foi instituída, e a constituição norte-americana (ainda fazem algumas coisas de jeito) copiada pelos países que se queriam desenvolver industrialmente também. O fim da escravatura foi o começo, bastante recente, para tornar o homem menos preconceituoso a esse nível, mas, ainda há escassos anos, se proclamava alegremente o apartheid na África do Sul. Vem de Apart - separação e previa uma sociedade em que não haviam cá misturas (e não houveram, apenas vergonhas) Por mais que o branco tivesse usado e abusado do crime e o preto tivesse feito o que podia para evitar o inevitável (atirem lá pedras ao santinho), a morte foi essa gota que se juntou ao rancor justificado. Talvez o preto tivesse deixado o branco se levantar, até fugir, ou permitir um combate corpo-a-corpo estilo MMA. Sou a favor de todas as manifestações em prole dessa morte. Eu que sou preto sinto-me injustiçado, magoado, como se fosse dum filho branco meu que se tratasse. Caralho!!! O que não me cabe na cabeça é o que venho a descobrir há uns dias. Ouvi na SIC que dois pretos tinham sido enforcados e deixados pendurados, como se fossem duas bandeiras. Lá estão os cabrões do KKK a mostrar as pelagens (já que não têm garras). A “supermacia branca” devia ser um título de filme porno, não uma ideologia qualquer. Claro que a parte dois seria a “supermacia preta”. Depois decido-me qual ver. Alguém já viu algum filme relacionado com o Klan, aquilo é de meter nojo até ao vómito. Ponho sempre a hipótese no ar em jeito de provocação: O racismo é uma mania de superioridade de raça, ou um medo irracional da própria ser inferior?
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