
o que demonstro sou
Data 26/10/2019 17:13:45 | Tópico: Poemas
| Não vão em cantigas, nem em meras aparências, no hábito do santo. O que, em vão, procuro é a fé nas ciências, no mais obscuro canto. Vingo e sem pingo de pudor vou ao mais fundo ardor guerrear mais as Fúrias a traição de ganhar e do perder. Mato e morro mais um pouco. Deserto e torre. É meu o perfume a pavor e socorro de esquecimentos. Entre ventos e granizos, entre instantes e eras imortalizo o ódio a primaveras, outonos, invernos e verões. D'arma em punho ataco. Defendo o herói e o fraco. Defendo-os da minha ira incontida em raiva, com uma sede fétida de justiça amarga, pobre e podre, azeda, inglória... Eis-me apenas a estória dum Homem pronto para apagar na mesma moeda o que me foi dado. Com juros e requintes.. Sem escolha que esconda a descida aos meus medos, a ganância de mais uma vontade debaixo da minha pegada, impressão digital sob a qual todos se curvam. O que demonstro sou, à beira do cataclismo e do abismo. Teclado cheio de carne, teclas e letras prestes ao grito, num alerta sem cores, sem dó, sem absolvição. No meio de pó. O chão dita-me a incúria, a blasfémia, o urro. Empurro mais um momento para o amanhã, persevero entre os sonhos acres de fúria, faltos de fé. Corto à faca mais um ambiente num silêncio com uma verdade falsa de pudores, com uma mentira. Inconveniente. Doente das mãos aos olhos e suas cores. Multiplico o bem pelas cidades, subtraio e adiciono dias ao mesmo sítio. Traio amiúde os meus quereres e sou o Homem da guilhotina de outra Maria Antonieta. Nunca basto! A vida ensina-me todos os dias o que vou esquecendo com o tempo.
O que de monstro sou...
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