
TRÊS DE OUTUBRO
Data 03/10/2019 14:05:19 | Tópico: Prosas Poéticas
| TRÊS DE OUTUBRO
Impacienta-me não saber o que fazer n'esse momento grave de minha vida, quando meus passos não me conduzem e as portas não se abrem.
Tenho ânsias de infinito, mas vomito vinho doce...
Pretenso tantas coisas, desconfio não ser mais nada e aguardo o Juízo como se já morto e enterrado. Não há umbrais d'onde minhas carnes possam retornar incorruptas... Não, tudo o que há é a estranheza d'este momento que se arrasta faz semanas sem me propor veredas.
Pela primeira vez na vida tenho medo.
Temo a hipertensão e a guerra global em igual medida, claudico há dias pelas ruas de minha cidade: Há dor. Temo o dinheiro curto e as pequenas expectativas, pior: Temo ter me tornado irrelevante.
Esquecido no corredor d'alguma corporação, eu verso ciente de que deveria trabalhar, mas não há trabalho senão enxugar o gelo do icebergue à deriva...
Não sou sequer um perdedor, pois, não entrei em campo. Não fui bom o bastante para envergar o uniforme e ser carne de canhão.
Há conflitos nas ruas; nos becos... Há sombras estendendo-se por sobre toda a metrópole. Há sinais de fumaça e poeira informando do fim próximo. Há tardes de sol abrasador com a secura de saaras enquanto passo a caminho. Há ódios reverberando em milhões de olhos vidrados em telas azuis que hipnotizam. Há distâncias capazes de desumanizar os outros e a mim mesmo para os outros... Basta! É preciso continuar andando.
Todavia, aonde vou?
Estou velho demais para m'empolgar com promessas de sucesso. Já ouvi muitas; já persegui várias... Estou cansado. Não, estou entediado.
E jamais se deve subestimar o poder criador-destruidor do tédio.
Betim - 2019
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