
DOS HOMENS
Data 03/09/2019 16:37:37 | Tópico: Poemas
| DOS HOMENS
"Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum". REPÚBLICA FRANCESA in Declaração dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos
Desde que os homens andam pelo mundo, Há quem ordene e quem seja ordenado. Pôr em ordem é o hábito fecundo De nós, frágeis bípedes, p'lo brado Que ecoando nas centúrias, iracundo, Nos fez povos ao havermos lado a lado Seguidores d'uma única vontade, Onde muitos sob mesma potestade.
Com efeito viver em coletivos Tem permitido aos homens muito mais Do que como se meros seres vivos Vivessem como vivem seus iguais: Escolhem d'entre si os mais altivos E d'eles fazem entes divinais Que reinem sobre todos afinal, Embora para o bem ou para o mal...
Assim, quando a verdade se faz crença Haver ou não haver já não importa. Sem que grandes luzes os convença Mediante uma esperança natimorta, Se identifiquem pela diferença! A fé na eternidade os reconforta, Enquanto se resignam nas misérias E desdenham do corpo as vis matérias.
Muitos pela violência de seus feitos Lograram ter o mando de milhares Postos em avanguardas, contrafeitos, Ou pagando tributos seculares. Os que pela Fortuna eram eleitos, Dominando pessoas e lugares, Usavam do Poder com liberdade E depois o deixavam como herdade.
Exibiam-se ornados por coroas Em face de vassalos humilhados Exigindo cobrirem-no de loas, Tanto seus actos certos como errados. Por fim, eles dispunham das pessoas Como se actores sobre vãos tablados Onde todos, por cálculo ou capricho, Seguem alheio texto ou vão cochicho...
Qualquer ordem fundada no divino Ao querer reinar n'este e n'outro mundo É Poder que absoluto e ladino Governa tudo e todos sem segundo. Decerto é alheamento tão malino Mais faz, do nascituro ao moribundo, Quem confundindo trono com altar Tão-só obedecer, não cooperar.
A Realeza, a suprema distinção, Ao revestir de Deus a monarquia Impõe a Ordem Social por submissão Que usualmente descamba em Tirania. Mas súbdito se torne cidadão Quando indivíduos contra a fidalguia: Escravos são tão-só de seus abdomens, Nunca d'homens mais homens do que os homens!
Pirâmides, porém, são construídas Em cada sociedade pelas moedas... São riquezas quem rege nossas vidas, E atravessa às Nações em suas quedas Para além das verdades conhecidas Entre revoluções e labaredas: Sob a mão invisível do Mercado É que se ordena o povo sob o Estado.
Portanto, seja livre embora pobre A base da magnífica arquitetura Que s'ergue diariamente d'ouro e cobre E adquire, indiferente, mais altura. Até que essa excessiva carga sobre Solape a metafórica estrutura Co'o rearranjo das bases e dos cumes Para com novos pares, novos numes...
Haverá verdadeira Liberdade Aos homens que se iludem pelo engano? Quando entenderão que na Igualdade Se livram de qualquer divino plano? Que apenas com fraterna humanidade A união que dá força ao ser humano Transforme sua acção em meio a História Sem deuses nem heróis em sua glória!
Dos homens, o que s'espera é consciência. Já basta de inverdades convenientes E de belas mentiras p'la existência -- Explicações covardes; coniventes -- Submetam realidades à Ciência, Jamais a outros achismos complacentes. De modo que, também por discordância, Se possa argumentar com tolerância.
Sejam, deveras, livres porque iguais. Não escravos de suas diferenças, Que só faz com que queiram mais e mais Em lugar de sanarem desavenças Ou rastejando em busca dos ideais Se percam de presentes e presenças Por futuros pretéritos perfeitos Entre sós labirintos de conceitos.
Essa Ordem capaz de nos reunir É a força e a fraqueza das pessoas: Juntos, os homens devem discernir E haver coisas tão úteis quanto boas. Ou senão, como impérios a decair, Mais combater por cruzes ou coroas... Regras haja a ordenar como vivemos E impedir que uns aos outros nos matemos!
Poderes são por homens exercidos E devem, para o bem da Humanidade, Por concordância às regras submetidos E nunca por temor à potestade. Aqueles que governam, escolhidos, Jamais se arvorem outra qualidade Senão servir a todos igualmente, Dando lugar no tempo competente.
Queiram os homens ter por objetivo O próprio bem-estar tido em comum. Que o anseio d’haver-se são e vivo Não faça negar vida a sequer um. Ao contrário, se mostre compassivo Inclinando-se sem desdém nenhum: Conviver é o chamado mais profundo Desde que os homens andam pelo mundo...
Belo Horizonte - 30 08 2019
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