
A(l)titudes
Data 12/03/2019 11:11:06 | Tópico: Poemas
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Mais perto do céu que me há-de guardar, eu sou da montanha, não sou do mar.
Eu sou das colinas, não sou das ondas, exalto as vinhas e curvo-me às mondas.
Mais perto da fonte que do desaguar, rendo-me ao silêncio, não ao marulhar.
Eu sou das águas que as nuvens adoçam, eu sou do rio que as chuvas engrossam.
Mais perto da calma límpida do ar, aquieto a alma, fico a esperar
que o estreito oriente, nas curvas da serra, não sangre em navios que levem à guerra.
Se acaso a uma praia eu vier a dar, não nego, os meus olhos deixarei espantar -
que eu sou de horizontes, de azuis e de verdes e trago na pele o salitre das sedes.
Mas eu sou dos montes, mais que do mar, sou gente da terra, não sei navegar.
O feitiço do rio depressa me chama, a saudade é rabelo e voz de quem ama.
Mas levo no peito, da palavra "amar", a largueza toda que guardei do mar.
E sempre regresso, sem nunca partir da terra que um dia me há-de cobrir.
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