
Um poema de um cérebro só
Data 15/01/2019 02:42:39 | Tópico: Poemas
| Tomo um clonazepam e fumo uma tronca. Uma dose de vodca e tonto estou. É difícil me manter sentado. O corpo pede: se deite! Me derramo na cama.
Coloco uma boa música para tocar e percebo o quanto estou tonto. Apago. Acordo. Fumo outro e apago. Por 4 dias o mesmo ciclo. Sem ver a rua ou ninguém. Com saudades de alguém.
A folga tem fim. Hoje volta a rotina de merda de um operário. Penso em demissão. Mas preciso dos animais que veem nas notas. Um aperto no peito. Uma angustia em estar vivo. E dormir para sempre é à vontade. Não sair do quarto. Isso realmente me entristece... Será se sou forte o bastante? Viver está se tornando um pesadelo. Onde só sonho com a caneta em Mãos.
Estou tentando vencer o que me atormenta. Raízes recentes. Apanho e apanho. Penso em desistir. Isso é o maior princípio para a derrota. Venho recebendo versos antes de adormecer naqueles momentos de últimos segundos de consciência.
Belos poemas poderiam surgir. Raramente me lembro deles quando acordo. Não sonho a um bom tempo ou pelo menos não consigo lembrar. Sempre escuro. Nada. É como não existir.
Manu me traz a vida durante a madrugada com uma lambida áspera de gato. Bem na ponta do meu nariz.
O sistema me obriga a voltar a realidade durante a madrugada ainda. É a busca por tesouros. Sobrevivência do século XXI. Somos uma geração egocêntrica preguiçosos. Não quero trabalhar para outro homem. Não quero acordar cedo. Ou me preocupar do quanto eles irão descontar do meu salário.
Estou tentando encontrar um equilíbrio e estou errando. Do de encontro com a parede com meu punho por problemas que não sei como resolver.
Dos velhos tempos só sinto falta da infância onde a inocência nos proporciona a felicidade plena.
Agora tenho que me preocupar em avisar: “é débito.” “débito?” “Éé...” “Beleza.” Tenho que me preocupar Com goteiras quando chove. Minha marmita? Será que já a preparei?
Meu desodorante está acabando... Que saco. O shampoo também! Não quero sair da cama e um foda-se doou a tudo. Praticamente. Venha me visitar. Traga cerveja. Vodca não. Cigarros ou apenas uma inteira para a guimba que é melhor ainda. Se quiser deixar uma ritalina de presente quando for. Fique à vontade. Clonazepam? Não precisa. Tenho muitos. Já tomei tantos que durmo facilmente no chão. Forrado apenas com jornal.
Por mais que eu tente tudo que eu consigo é me sentir morto. Aproveito os dias de folga me entupo de qualquer substância que me deixe lombrado ou alucinações. O mundo em si é muito cinza. Cinza me sinto. Não me peça para sorrir caso queira tirar uma foto.
O descaso está em minhas bermudas manchadas e furadas. Meteoros gigantes caíram. Queimaduras no peito, barriga e dedos. O descaso está nas suspensões no trabalho e nas horas negativas. No descaso com a saúde. Cigarros e bebidas. Ervas e comprimidos. Sexo frio e solidão.
Dias sem colocar a cara nas ruas. Internado em meu próprio quarto. Planejando tudo. Antes de os gigantes chegarem. E em outra realidade eu esteja vivendo vivendo para mim. Por enquanto observo Manu correndo pelo quarto, agora que as goteiras passaram.
Ideias grandes demais para ficar apenas nos papéis. A questão é: como fazer com que a ação aconteça.
Mas estamos em uma geração tecnológica. Quem se importa com livros? Que os poetas morram de fome. Dando a alma pelo o que nada pode se tornar. Se entregar a um possível vazio eminente. Editoras mercenárias o mundo gira em torno do dinheiro e não a nada que se possa fazer se não, garantir o seu. Moldar seus sonhos. Afoga-los e se manter estável. Instável internamente. Inconformado. Nunca me renderei.
Tentando me conformar meu coração acelera quando a vejo na rua. “Acelera essa merda.” É o que penso. E a cada segundo que eu a via, meu peito apertava. Sentia sua doce presença.
O que meus olhos viram. Ela. Apenas ela. Meu coração sentiu. Não tinha como eu ir pelo clássico caminho de fuga. Eu já estava dopado o suficiente. Tudo o que eu queria era um cigarro. Fumei um de palha sozinho em meu quarto. Sofri. Perdi o sono. O recuperei. Evitei que eu me definhasse em frustração. Chamei os cachorros para a briga. Puro eufemismo. No fundo eu só queria estar gritando do outro lado da janela: EI! Sinto sua falta! Pelo menos ela parecia estar feliz. Sorria.
Mantenho minha expressão apática de uma profunda tristeza. Não quero ser como Bukowski. Amargurado. Mas vejo que já sou.
Solitude é diferente de solidão. Porra! Tudo se resume em um pacote chamado depressão.
Cinzas por toda a mesa e as formigas simplesmente estão em todos os lugares. O quarto. Bombardeado o dia inteiro pelo soberano sol. Tudo se transforma em uma sauna. Quando chove, há o risco de goteiras.
Um livro do Kafka em meio a toda essa sujeira. caixas de cedas vazias e palitos de fósforos. Espero pela morte e faço de tudo para me distrair. Escrevo jogando palavras ao vento. Enxugo o suor. Paro. Observo Manu dormindo com a mesma expressão boçal de sempre. Pensando em que eu deveria limpar o banheiro. Azulejos sujos. Uma crosta de sujeira nos cantos. Mas não. Por deus. Prefiro ficar deitado.
Penso em um pouco de álcool. Penso em Brahma. Um temporal se forma. Busco 4 latões antes que a água caia. E novamente. Outro dia ao qual tenho que me preocupar com as goteiras. Me entupo com alguns entorpecentes para que meus olhos não gotejem. São 4 paredes brancas. Nada para assistir. Escuto a música vendo a terra girar esperando pela noite na qual me perco e apago. Acordo o sol está no topo. Ressaca e meu cérebro lento e meus pulmões cansados.
Dormir não tem sido uma dificuldade desde que o clonazepam estejam ao meu lado. Tentei expulsa-los. De nada funcionou. Não vão embora com facilidade. Tenho que sustenta-los. E aqui falamos sobre vícios e ate onde eles podem ir.
Acordo pela manhã. 8 horas. Abro a geladeira e tudo que vejo é um único latão de Brahma que sobrou. Peguei e abri. Dei bom dia ao meus estomago com uma dose de cevada. Earl Sweatshirt tocando no notebook. Bolei um e porra que se foda é domingo. Manu miava inquieta querendo sair do quarto. Arremessei algumas blusas para cessa-la. Perguntei de todas as formas o que ela queria e fechei a única janela que dava acesso a área de fora da casa. Ela me volta pro quarto e continua a miar. Estou com vontade de saciar sua curiosidade E joga-la aos leões. Quem sabe que com o aperto Ela não aprenda que faço isso apenas para protege-la. Uma pena animais não falarem seria tudo mais fácil.
Aos Leões de minha mente me lancei. Coragem para aguentar por muito tempo. Viver é um verbo. Um ato. E todo ato se desgasta se feito regado a insatisfação. Não é fácil simplesmente sair. São muitas responsabilidades o apoio sempre estará aos meus pés. Mesmo sem chão acredito ter onde pisar e voltar atrás pode ser seguir em frente. Desviando das baratas que saem na escuridão. Amassando cabeças de serpentes. Nunca fui de dar um falso sorriso.
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