
ÍNCUBOS
Data 03/12/2018 14:04:36 | Tópico: Poemas
| ÍNCUBOS
Rogo-te: Não te deixes enganar. Que embora fugidio o meu olhar, Sim, tenho estado atento! Percebes que me movo pelas sombras E, inelutavelmente, tu me assombras A cada vão momento.
Não se turvem os verdes olhos teus A especular de mim sonhos de Deus Ou estradas para o Além. Ao contrário, como o húmus mais escuro, Eu às turfas dos charcos me afiguro Sem mais qualquer porém.
Matéria putrefeita das baixadas, Onde forte neblinam alvas geadas, - Manhãs de imensidão - Sou antes a memória enternecida Do que julgaste vir d'uma outra vida, Mas é teu coração.
Não sou senão lembrança que passeia Por estradas rurais na lua cheia Ou por casas vazias, Como se humanidade que, incorpórea, Carregando o estandarte da vitória Entre terras sombrias.
Cuida que te assovio em meio ao vento Tanta melancolia que o lamento Se harmoniza à saudade. E entende que ainda que escondido Tu verás o meu vulto presumido Por toda essa cidade.
Madrugada, sozinha pela alcova, Ainda teu desejo se renova E buscas impassível O calor de carícias tão antigas Que do limbo me admiro que persigas Minha boca impossível.
Sem embargo, suspirosa tu me chamas, Tendo a mão sobre a vulva posta em chamas. Como se a minha mão Pousasse novamente em tuas coxas, A ponto de deixar-te marcas roxas Tamanha excitação.
E bela te desnudas feito ninfa Ao gozo liquefeito todo em linfa A encharcar-te o lençol. Dorme… Que teu amante evanescente Pelo quarto outra vez se faz ausente, Logo ao raiar do sol.
Betim - 03 12 2018
|
|