
ANTEVÉSPERA DO POEMA
Data 27/11/2018 07:05:17 | Tópico: Poemas
| Sê como ilha, erma, indivisível, bêbada no olhar, deixe-se girar na roda da vida, mesmo que horizontes inalcançáveis. Sustente-se nas amarras, abraçando a imensidão do mar; abissal, anormal, sobrenatural.
Ande à beira-mar soprando o vento com palavras etílicas, loucas, indizíveis
Sê qual aquele homem que veio só, viveu só, morreu só, deixando apenas o solitário e vago olhar, porque a vida não o entendeu...
Previsto; simulacro de semideus, mais do que, ou quase nada, do que sempre foi, é ou será.
‘O tempo não para’, tampouco ampara, não repara equívocos, nem danos irreversíveis.
Num longevo tempo aclara; mas quando já corroída a carne, diluído o sangue, rompido ossos e cartilagens. Ilha inabitável...
Quem dera possível poder mandar parar de girar os malditos ponteiros do relógio de pulso, que de segundo em segundo faz questão de mostrar-se; tempo inútil.
Diacho!... Como sofrível o fim; desconhecer o amor, o amar, a natureza, as coisas, a dúvida do próximo instante...
Maldito relógio de pulso! Para quem deixar?... Ficará para quem quiser levar!
O poema sabe o que há escrito, e do jeito amorfo dito das coisas. Talvez fuja da realidade, crua, tão remota quanto a esperança. Se ainda houver poesia injeta; resistir-se-á, morrer-se-á? Ela por si só não se desintegrará; deixe-a lentamente ir. Por hora; não a ejeto.
|
|