
Silvestre e o idioma (Mia Couto)
Data 15/07/2018 23:29:02 | Tópico: Poemas
|  Silvestre quer saber porque razão eu estrago o português escrevendo palavras que nem há. Não é a pessoa que escolhe a palavra.
É o inverso. Isso eu podia ter respondido. Mas não.
O tudo que disse foi: é um crime passional, Silvestre. É que eu amo tanto a Vida que ela não tem cabimento em nenhum idioma.
Silvestre sorriu. Afinal, também ele já cometera o idêntico crime: todas as mulheres que amara ele as rebaptizara, vezes sem fim.
Amor se parece com a Vida: ambos nascem na sede da palavra, ambos morrem na palavra bebida.
MIA COUTO, escritor de Moçambique, no livro "Cidades, idades, divindades"
Fotografia: Flavio Brandão
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