
Ode à mamãe: II Tua lembrança
Data 22/06/2018 21:50:23 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
|  Ode à mamãe
I. Teus sentidos
Doce murmúrio aflora Em teus secos lábios A canção que outrora Balançou tantos berços
Oras em profundo silêncio Imagem que lembra o filho Tomado pelo mundo cruel, Tua eterna criança, teu mel
Em tuas mãos delicadas, Surgem implacáveis marcas, Onde passearam mil afagos E jorraram carícias brandas
Mãos calejadas, vívidas, Na razão de criar, cálidas Levam sempre, calor e alento Na fria madrugada de inverno
Em teus olhos cristalinos, A expressão terna e forte, Nas telas que nos labirintos De minh´alma, tu pintaste
Foram lágrimas vertidas Por dores e angústias, Rolaram e deixaram sulco Para sempre em teu rosto
Em teus ouvidos atentos, O hábito de escutar o choro, À noite, em gritos e soluços Alertavam a cólica, o enjoo
Terna, paciente, ao colo levas, Abnegada e radiante presença, E ninas, proteges, cuidas, Amamentas, dás segurança...
Em teus braços, seguro porto. Abre-se a fortaleza secreta, Suave jeito de tua acolhida Para que teu indefeso rebento
Supere o medo de vencer Ignorados caminhos, destinos E, por fim, a tomar de teus braços A própria razão de ser, de viver...
II – Tua Lembrança
Terna lembrança na minha tarde Cruza meu caminho, passam nuvens, Gaivotas são pensamentos errantes, Gravitam na mente do filho distante,
Náufrago sou dos próprios sonhos De conquista, em lugares estranhos Urge tocar a terra firme, oh bússola Alcances a minha nau-materna...
As ondas agitam as marés, Nada do farol, só sinalizadores O luar se recolhe, está encoberto, Nuvens de tempestade no porto
Na turbulenta e sombria noite Tua cantiga do sol ouço ao longe No ritual da queima dos ramos Para acalmar a mente e os trovões
Ali, longe da terra natal, sinto Um toque terno e sublime Como um leve soluçar no frio No balanço que a noite trouxe
Na amargura desértica, Brota uma esperança, Eis que tua mão me enlaça E envolve (de novo) tua criança
Sofres, mas ainda ninas, Sonhas, pensas, oras Acalantas ainda tuas crias Procuras nas cestas, redes...
Berços que o tempo célere Tomou em um tapete árabe, Jamais será apagada, esquecida A chama que acende(u) tua vida...
Que tu já não percebes eterna criança Que sopraram as velas do sono E apenas a tua canção de esperança Segue através da noite mar adentro... AjAraujo, o poeta humanista, poema escrito em 1979, em homenagem e com saudade imensa de minha mãe, Eutália.
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