
Para lá da pele
Data 20/05/2017 09:58:35 | Tópico: Poemas
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Atravesso a fronteira da minha pele E oriento-me mesmo no abismo Púrpura profundo das veias em pulsar Rios de ondulações do ser que respira Que faz um pacto colorido com as árvores
Permeabilizo-me envolvo-me entre átomos Abarco o tronco onde a seiva contraria A gravidade do corpo celeste anil ebúrneo E num ápice sou folha verde acenando ao vento Sou o sopro que sustém a planta O líquido nutriente de que se alimenta O motor que vibra em sonoridade viva Como tambores que ecoam na selva da abundância
Ultrapasso a película da minha cútis Plano por entre alvéolos pulmonares Que me anunciam a poluição das criaturas Os vícios as insanidades as loucuras E de um ato de contrariedade alcanço Outro ribombar outro espaço Onde não há crivos nem dentes Nem cruzes nem espinhos nem garras Nem malévolas sementes Nem sangue nem feridas nem balas Nem matanças nem favos de decadência Nem ovos de podridão nem crença Nem mutilações nem doença Para lá da minha pele Esvaio-me em partículas de nada Não quero saber de orientações Permaneço incólume onde ficar É provavelmente aí a minha essência O meu genuíno lugar
Vídeo de José Lorvão Poema de Maria Oliveira
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