Guarda-me ou rasga-me ( A escolha é tua).

Data 12/03/2008 16:28:26 | Tópico: Prosas Poéticas

Deixa que te conte um conto. Que acrescente um ponto ao anteriormente acrescentado. Que no meio das tuas mãos a página cresça. Se quiseres rasga a página quando acabares. Ou guarda-a no bolso do peito. Onde já lá estou. Deixa a página ganhar tons de cólera. Deixa que seja eu, a ser comida por milhões de bibliófagos. Que sejam eles as bestas devoradoras de mim. Peço-te. Imploro-te. Guarda-me no bolso de palavras. Tuas. De ritmo demasiado ensurdecedor. Que me enlouquece. Guarda-me.

Ou não!

Se rasgares a página. É a mim que desmembras. Aquela que tão bem conheces. O corpo que somente foi teu. Quando nas noites de longa solidão a ti e meramente a ti. Entreguei-me. Se me odiares… Se me odeias por ter amado cada centímetro de ti. Por amar ainda a besta em que te transformaste. Não me condenes. Amo-te. E deixar de amar-te é parar o coração já morto. É contar até dez, e suster o fôlego até ao infinito. É abandonar-me a ti. Quando em ti me devia ter recolhido.

Talvez!

Sejam estas as palavras erradas. Afinal foram tantas as palavras que das minhas mãos partiram, que nunca minhas. Sempre tuas. Sempre tua. O texto é fraco. Bem sei. Mas sou sempre eu. A inútil. A medíocre. A sempre adormecida. Que te escreve. Deixei-me embalar pelas vozes sofríveis dos que me rodeiam. E não apressei nunca o passo por ti.

Perdoa-me.
Guarda-me ou rasga-me. A escolha é tua.



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