Fragmentos no guardanapo

Data 05/04/2016 21:48:13 | Tópico: Poemas


Buscando no dicionário o significado para a palavra “fragmentos”, encontramos no Dicionário Michaelis: 1. Partícula isolada do todo. 2. Pequena fração. 3. Cada uma das pequenas partes em que se dividiu um todo. 4 Estilhaço. 5. Parte que resta de uma obra literária antiga. Também se obtém que são extratos, partes ou frações retirados de uma obra literária, bem como que um fragmento reproduz a síntese do estilo e pensamento do escritor.

Dessa interpretação que aponta que seria um pedaço, uma parte de um objeto ou algo que foi partido, por extensão, infere-se a destruição do todo restando o fragmento, que pode ser um trecho incompleto, mesmo sem nenhum sentido ou indicações maiores sobre autoria e estilo.

Desse modo, como parte ou trecho de certa forma não possui autonomia, não se valeria por si próprio independente do resto, não podendo ser considerado já que em alguma oportunidade fez parte de um todo. De um fragmento não se poderia com certeza entender o real significado do que desejou transmitir o autor.

Aos pequenos textos que coleciono manuscritos em diversos tipos de papéis dei o nome de fragmentos. Não seriam propriamente fragmentos posto que não foram retirados de um todo, perdido ou não. São versos, frases, palavras, algumas linhas, às vezes um parágrafo todo que por razões diversas não se tornaram um poema. Nem sempre é uma ideia central, núcleo ou embrião de algo maior. Às vezes um ou dois versos ou mesmo algumas palavras para que não fossem esquecidas. Por si só não são nem mesmo um poemeto. Estes, em poucas palavras trazem a mensagem. Aqueles contém parte do pensamento que iria ser desenvolvido e não foi, podendo ser apenas palavras sem sentido ou significado. Fragmentos seriam partes de um texto maior que no meu caso nunca existiu. Também seria impróprio chamá-los de rascunho. O rascunho seria um esboço quase pronto sem necessidade de desenvolvimento.

Meus fragmentos nunca fizeram mesmo parte de um todo. Eram escritos para que não esquecesse e talvez se tornassem um poema. Escrevia fragmentos em qualquer papel que estivesse à mão. Às vezes, no interior do maço de cigarros ou em guardanapos. Já que grande parte deles nasceu numa mesa entre um copo de cerveja e um palito, resolvi batiza-los de fragmentos no guardanapo. Simplifiquei o nome para “fragnapos”.

Para que fossem de alguma forma organizados, inicialmente foram identificados com as letras “FG” e um número sequencial em algarismos romanos. Depois optei por dar um título, geralmente um verso ou uma palavra contida Muitos não prosperaram, jamais saíram do papel original para se tornarem um poema autônomo. Pensei em publica-los como estão para transmitir também fragmentos de impressões. Depois achei que seria cansativo para o leitor ler todo um livro somente de fragmentos, mas de qualquer forma não queria que ficassem esquecidos na gaveta, entre as folhas de um livro e, em última hipótese, que se perdessem entre papeis velhos e acabassem na lata do lixo.









fragnapos (fragmentos de guardanapo) - I a VI
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FG I

tristeza e melancolia

tristeza, angustia e melancolia,
companheiras, seguiam-me dia a dia
solidárias ao sofrer, uma delas ria.
solitária, alheia, a vida era vazia.





FG II

seu sorriso

seu sorriso trouxe a vida
que perdi em algum lugar
do caminho que imaginei
nunca mais outra vez trilhar.





FG III

o que acontece

não sei por que acontece
quando o coração
pensa que esqueceu seu amor
ele volta maior do que antes.





FG IV

sorriso sofisticado

tudo disfarçado no sorriso sofisticado
sorriso apenas
para que outros não saibam
que olhos castanhos tão lindos
podem refletir tanto rancor.





FG V

talvez morto valha

minha morte
o féretro
enterro
flores
talvez morto valha
alguma coisa para você.





FG VI

sem poder esquecer

agora que tudo acabou
não penso mais em voltar
irei embora sozinho
sem poder esquecer você





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