
A ficção a partir do senso de não ficção
Data 19/03/2016 14:23:21 | Tópico: Poemas
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Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus
Quando ainda era peixe pequeno, um dia deixou que as escamas brilhassem ao luar mais ameno, aproveitando o descuido do duende. Foi flagrado olhando de relance os seios flácidos da lua já matrona, mas não havia grades nas varandas nem nas beiras dos abismos recende, odor de rosas rubras e rouxinóis suicidas, saturando petas e poemas no ar. . . . ... [Podem não acreditar, mas estarei feliz apenas por poder ver outra manhã ensolarada] ...
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Brandindo ferozes longos báculos, vão todos já que os arquitetos cegos diuturnamente inflando os egos, não projetam casas para um avestruz, nem gradis de varandas em pináculos, que poderiam ser ocupadas pelos jovens de moletom e capuz, pois não há edifícios altos flutuantes no fundo das ravinas verdejantes. . . .
Se caminhar pela rua deserta na noite do nevoeiro, poderá reprimir alguns desejos, já que a outros desperta; e acalentar doces enganos, num alongamento dos músculos, pedindo palmas para as sopranos com a impressão de ter visto polichinelos mancos e um pierrô vigiando o fantasma da varanda decorada inteira em art déco. ... . . .
Ruas encravadas nas encostas seriam intransitáveis, paralelas ou mesmo justapostas, difícil discernir se acontece em sonhos ou realidade, o que a parca do destino tece alternando em sonhos precoces a obviedade já pré-existente, não há ficção crível senão a partir do senso de não ficção ...
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