
mudança
Data 26/02/2008 16:27:45 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| A minha casa é onde o espírito mora. Onde arrumo os meus hábitos e organizo momentos. A fortaleza sem paredes onde me sinto segura. As almofadas onde a tormenta descança. Perfumes e recordações. São livros e objectos pequenos. A música de que mais gosto, e o lento passar do tempo. Não tenho laços nem raízes. Nem cidade nem país. Habito as palavras e os sonhos onde me sinto tranquila. É uma janela aberta a um horizonte qualquer onde adormeço para sonhar, onde morri tantas vezes para nascer todos os dias. Não tem divisões demarcadas. A minha casa etérea, é transparente e maleavel. Dissolve-se,transfigura-se,desfaz-se. Dura um segundo e evapora. Permanece em mim para sempre, como uma cicatriz,ou um instante esquecido de um momento que passou. A minha casa é o que invento. É onde me reinvento. É toda espelhos e luz, mesmo na sombra. Mesmo que chova. Mesmo que a humidade torne o ar pesado. Mesmo que o sol lhe passe ao lado. Uma estrada lamacenta, relembra o exílio. Espaço intermédio, ou rampa de lançamento.<br />Uma casa de lego que encho de bonecas. Onde não cabem mais bonecas, nem conchas, nem silêncios. É onde as máscaras se quebram, e as cortinas voam soltas - são lenços de praia filtrando a luz da manhã. São dias iguais, ou dias cinzentos. São vozes que me pertencem e velas de baunilha. Caixas de pequenos nadas,catalogadas por cores. Padrões rasgados,de tão gastos. Um velho pano do chão. É um palácio de princesas, onde falta quase tudo. Minha casa reciclada. Veio uma onda brilhante,... e tudo desapareceu.
|
|