
DEZESSETE DE FEVEREIRO
Data 19/02/2016 23:32:11 | Tópico: Prosas Poéticas
| DEZESSETE DE FEVEREIRO
Tenho para mim que a melhor coisa que posso fazer após um dia longo de calor e suor é tocar moto por uns vinte quilômetros até um vilarejo assim d'umas mil almas: Lugar pequeno. Entrar no boteco da rua e tomar uma.
Más maneiras as minhas? Sei lá... Conheci deste jeito patrimônios que não constam nos mapas... Garimpos... Roças... Acampamentos de trecho...
Viver no trecho, como diz o outro, é dormir mal, comer mal, passar mal... Mas, de noite, ver as estrelas! Ouvir o cricrilar dos grilos e o coaxar dos sapos. Sonhar Eldorados mais os beijos duma morena. Onde zoar forros, lundus e sambas
Puro desassossego de morituros a ignorar fadigas mais os extremos dos trópicos: Calor, humidade, mosquitos, febres...
Eu não careço d'uma cama limpa para morrer.
Mas necessito desesperadamente trocar olhares e ideias com a moça do lugar. Que, se não for metida a besta, saberá me conduzir...
Eu sou homem, caralhos! Sou humano!!! Eu quero o que a noite morna naquela paragem perdida me sugere: Ela!
Seu corpo é um jardim de delícias onde cheiro jasmins e alfazemas! Sua pele é macia e se ressente de minha barba, de meus calos. Sem embargo, me aceita o toque áspero como se a virasse ao avesso. Seus olhos têm o brilho da brasa da fogueira faiscando e olham fundo, dentro de mim, revirando meus segredos e prazeres. Seus seios têm a densidade exacta que me alimenta os sonhos. Sua nuca se arrepia toda só de lhe respirar o cheiro que se sabe.
Tudo tem seu prazo...
A desoras, dormir o sono dos justos ou, ao menos, o dos justificados.
Dia seguinte, é seguir tensionando as pestanas por afastar os maus recordos.
Quero nada não. Para quê?! Vou morrer mesmo. Eu e todo mundo.
Mas, ao menos, um anoitecer na grota é de lei!
Betim – 2016
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