
Num triste setembro
Data 28/01/2016 14:04:26 | Tópico: Poemas
| A primeira vez que vi um combate muitos anos atrás, num triste dia de setembro o ar rescendia pólvora e morte grassava impiedosa cerrando olhos que faiscavam.
Um insurgente olhava atento para as fachadas dos edifícios carregava a kalashnikov a procura do inimigo.
A memória vezes me falha sobre aquele dia de setembro quase consigo ver flores nos escombros das casas antigas que um dia foram lares felizes e alcovas que acolhiam enamorados;
Movimento nas trincheiras acompanhados dos disparos contra adversário invisível protegido pelo aço insensível do carro de combate que demolia as portas de ferro que sacudiam
Alguém estava chorando rompendo o silencio mórbido mas as balas não acreditam em lágrimas nem a palavra lhes importa
Difícil progredir cinquenta metros até a praça cheia de cadáveres enfeitando um chafariz que um dia acolheu crianças
Sentia sede e aplacava a fome com côdeas de pão amanhecido e nacos de carne em conserva atrás das paredes esburacadas salpicando os lábios com sangue vendo a distancia uma ponte como objetivo militar longe demais.
Quando anoitecia o céu acendia estrelas quais velas para orientar as almas que procuravam a eternidade mas o combate não cessava as palavras não importavam, as razões não convenciam.
Foi um ano difícil aquele do setembro quando pela primeira vez vi um cadáver de olhos baços vergonhosamente orgulhoso de ter puxado o gatilho. Pela primeira vez em combate vi um insurgente morrer sem querer chorar de ressentimento satisfazendo os desejos da alma sanguinária. Mas, como desde os tempos antigos, não esquecidos, as balas não acreditam em lágrimas.
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