
VINTE DE JANEIRO
Data 21/01/2016 00:53:24 | Tópico: Prosas Poéticas
| VINTE DE JANEIRO
Dize-me: O que difere o afetado cheira-rolhas do lírico e vago redator de cardápios?
Tenho, diante de mim, um vinho precioso e o bebo sozinho. Se não quero impressionar ninguém com minhas maneiras, tampouco ignoro a magia que se liberta ao sacar a rolha... O espírito!...
O céu da boca se aveluda à sua passagem E a língua brinca com o universo de sabores em que súbito é imersa.
Bebo, retenho à boca e engulo.
Tem sabor de improváveis madeiras e cheiro de remotas memórias.
Encho a taça novamente.
O líquido cor de sangue respira finalmente livre. Ele não pensa. Ele não sente. Ele não respira. No entanto, ele me faz.
Eu me sinto vivo e a embriaguez é apenas o prêmio final que concedo à minha mente.
Eu sinto o gosto.
O vinho me participa sua glória e se rejubila por habitar em mim. Sim, ele se alegra por me dar alegria n'esta noite. Estou feliz.
Se artificial e provisório tal paraíso, eu me congratulo por, enfim, conhecê-lo.
Voltarei d'ele alguma hora, tal com se volta de uma viagem ao litoral, cheio de sol, sal e histórias.
A realidade, malgrado dura, não me assusta: Eu conheci o que é bom!
Betim - 2016
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