
A VIL MATÉRIA E O ESPÍRITO!
Data 18/02/2008 17:21:36 | Tópico: Textos -> Esperança
| Esquecido, ignorado e desorientado, tremendo e faminto, vagueia o mendigo pela noite à dentro, inseguro e carente das benesses que lhe cobririam o corpo e acalentaria o seu estômago vazio e... Dolorido! Ele, não tem meta a seguir, transitando com velhas e maltrapilhas vestes, se sentindo um restolho humano e... Decepcionado com o seu malgrado viver! As calçadas sujas e cheias de protuberâncias, inclusive, de fezes de animais, são as suas passarelas diuturnas. Os latões de lixo são a sua orientação e balizamento à procura de sobras alimentícias. Os portais, portas e portões, sempre fechados para Ele, de onde, apenas, a brisa, em ricochete, o alcança e o alivia um pouco. Em cada cruzamento percorrido, os seus ombros vão se abaulando em direção do solo, com os seus pés vacilando e reclamando do acúmulo de peso, na fuga dos escombros empoeirados. Pára! Ante uma luz forte de um dos postes e, atoleimado, se sente tal e qual, uma simples mariposa embevecida. Nas casas, ao derredor, vê o máximo conforto sem divisões para Ele... Um mero fantoche copiador da vida fulgurante ao seu redor! Apóia-se a uma parede sentindo o seu calor e, ao mesmo tempo, arqueando, senta-se no piso a lhe umedecer e gelar as nádegas, com uma funesta sauna imposta e sem clemência, por lhe dar o calor da parede e o frio do piso. Todos nós! Somos de Deus o reflexo, em um retrato de valor positivo, entretanto, os Homens, numa ambição desmedida de recolhimento de Bens materiais e valores para si, faz do miserável mendigo um mero... Negativo! O pedinte sofre em sua carne o abandono, estando (ou, não) às margens da fartura, se dilacerando na “escada” da vida que o levaria a um altiplano, quando lá chega, se o conseguir estará, totalmente, arrasado pelos sofrimentos e fome na tentativa da subida. Todavia, acabada a condenação da mísera matéria lhe doada, o seu espírito refletirá com um poderio real, totalmente liberado da casca material, por Ele carregada durante a sua passagem entre nós, deixando os afortunados dos palácios e residências monumentais com uma dívida redobrada e infindável, por ter permitido a miséria e praticar o desinteresse total sobre o seu irmão da caminhada pelas “estradas” da vida! Vê-se, a seguir, uma modesta poesia de minha autoria e inédita, alusiva ao texto acima:
A JORNADA!
Perdido na noite impura Sem itinerário definido, Vagueia a rota criatura Paria da vida... Desiludo!
Têm calçadas por passarela, Latões de lixo como baliza. Portais/camarotes, seqüela! Pôr aplausos, apenas a brisa!
A cada esquina vencida Arqueiam os seus ombros, Os pés vacilam na subida Ao fugir dos escombros.
Para ante o neon... Absorto! Igual uma mariposa vencida. Nas casas, o máximo conforto, Nele... Um arremedo de vida!
Encosta-se na parede quente, Nádegas no piso úmido/gelado: Sauna funesta e inclemente A dizimar o âmago do coitado.
Somos de deus o retrato Com reflexo... Positivo! O homem, em voragem, Faz do mísero... Negativo!
Sofre a carne do abandonado Dilacerada na escada da vida, Chegando ao patamar arrasado Pêlos percalços da vã subida!
Porém, esgotada a natureza Da vil matéria lhe doada, O espírito reluz com realeza Liberto da casca da jornada.
O afortunado da matéria Terá dívida... Acumulada, Por dizimar a miséria Sobre irmão de jornada!
Sebastião Antônio BARACHO conanbaracho@uol.com.br
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