
É jegue mesmo - Lizaldo Vieira
Data 14/09/2015 20:54:38 | Tópico: Poemas
| Burro de carga – Lizaldo Vieira Santos É jegue ou jumento Tá bom É jegue mesmo Também Muito Ignorante Peralta Amigo das éguas E cia Sou lá do norte E nordeste Cabra danado Da peste sim senhor Dizem que prego peça Pareço gente Quando não aceito apanhar Pior pra trabalhar Quando a carga é muito pesada Fico encabulado Jogo tudo no coice Me esparramo na estrada Aí o dono com raiva Toca fogo no rabo Torço os beiços Fico acuado E não há remédio bom Pra fazer mudar de ideia Pode bater de matar Nunca vou sair do lugar Bicho de pouca sorte Vivo de casa em casa De deu em deu Procurando um dono Que melhor entenda suas artes O diacho é que não há quem possa Com esse tal de ser humano Vivo levando carga e pancada Nas orelhas e no lombo Ninguém tem paciência comigo Já fui carreiro Carreguei agua Lenha e barro Tradutor de idioma Chamam-me também de professor Parteiro Porteiro de cabaré E advogado das éguas Servi de montaria pra muitos e poucos Gente do bem E dominados do tinhoso Acho que até que fiz o bem pra deus Pelo menos o menino santo carregou Na fuga para o Egito Inclusive ele me fez pipi Olho só a mancha em cruz deixada Deixada em mim Em tudo fica encabulado Homenagem alguma nunca mereci Por meus serviços prestados Na seca Carreguei água pro pote Na roça Puxei arado Mais quando sentia fome Caia no chicote Amarravam-me no quintal E davam restos de monturo E papel velho como bocado Chamam-me de jerico E até pai dos burros Só porque de hora em hora Dou meu relincho em cima do ponteiro Contudo Cansei de tanta carga pesada Tudo para eles E para Nico nada É muito trabalham sem nada ganhar... Muita dureza Só querem me ver trabalhar. Burro de Carga Ate manhoso da estrada Sou apelidado Naquele tempo De vacas magras Em que não tinha automóveis Até o padre carreguei nas castas para a missa Mais quando se deitava Querendo um descanso Diziam logo que era preguiça Nisso Sentia imensa amargura Cadê meus merecimentos Por tantas angustias e torturas A maior homenagem pra mim Veio lá do sertão Quando mãe zefa e pai janjão Tacaram o apelido de professor Só porque meus versos davam lição do baba De a até y Todo mundo aprendia a estudar Até versos jocosos Fizeram comigo Burrico manhoso Enrolado Bom pra ser castigado Eu tenho um breve reconhecimento Alcunhado namorador Por certas freguesias Que se cantava em versos e prosa De noite e de dia Se deus fez o homem pra dominar Eu nada mais era um animal de quatro patas Orelhudo Pronto pra trabalhar E apanhar Dia e noite Todos os dias Pois sempre serei burro de carga Comendo restos de beira de estrada Sem direito a um pasto Aqui ou em Madagascar Bicho cabeça dura Sou mesmo Feio e encabulado Imaginem se não fosse Dizem até ser eu muito safado Quando resolvo namorar Vai pra lá coisas ruim Deixa ao menos tirar o atraso Pois sou cabra macho para danar Quente feito o nordeste Vê se não bota mau gosto No meu jeito de gostar Só porque sou bom no couro Vai pra lá ovo goro Pra sua praga não pegar
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