
O convite a viagem (Charles BAUDELAIRE)
Data 23/02/2015 00:58:57 | Tópico: Poemas -> Intervenção
|  Minha doce irmã, Pensa na manhã Em que iremos, numa viagem, Amar a valer, Amar e morrer No país que é a tua imagem! Os sóis orvalhados Desses céus nublados Para mim guardam o encanto Misterioso e cruel De teu olho infiel Brilhando através do pranto.
Lá, tudo é paz e rigor, Luxo, beleza e langor.
Os móveis polidos, Pelos tempos idos, Decorariam o ambiente; As mais raras flores Misturando odores A um âmbar fluido e envolvente, Tetos inauditos, Cristais infinitos, Toda uma pompa oriental, Tudo aí à alma Falaria em calma Seu doce idioma natal.
Lá, tudo é paz e rigor, Luxo, beleza e langor.
Vê sobre os canais Dormir junto aos cais Barcos de humor vagabundo; É para atender Teu menor prazer Que eles vêm do fim do mundo. - Os sanguíneos poentes Banham as vertentes, Os canis, toda a cidade, E em seu ouro os tece; O mundo adormece Na tépida luz que o invade.
Lá, tudo é paz e rigor, Luxo, beleza e langor. BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Edição bilingue. Tradução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
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