
VENTANIA ABSTRATA
Data 31/01/2008 17:58:59 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
| VENTANIA ABSTRATA ( A Gilberto Salvador)
Cada reta que você traceja de paleta, enseja a sobreposição de um veio do vento a reverberar na tela.
Vislumbro a ansiformidade que se materializa na tela: ansiformidade dos seus manuais gestos, sempre tão libertos, que erigem justamente a obra ao sabor da livre forma á qual uma asa anárquica anela ao se aperceber completamente tomada pelo magno abraço da força emanada da magnitude da Óptica poética.
No entanto, reside em cada traço transposto uma justeza geométrica que faz da anarquia, entranhada na obra, do mundo uma das mais insuplantáveis fortalezas, cuja vista, imersa em mar de água cristalina, divinamente enxerga, alcança, voeja, Erra.
Porque cada reta de nuança híbrida, que você delineia ao salpicar a tela, é o cimento da sageza que solidifica a poesia da sua leveza: sim, a diafaneidade de sua natural cinética, presentificada na asa-tomo em que pincela. Não, não caio em logro: você é a própria personificação da candura e trangressão contidas na liberdade, que por sua vez transparece na singela beleza do vôo sobre o quadro em que o projeta. Mesmo quando não a tangia deliberadamente, você, ao discernir e expor as chagas abertas pelas gar- ras da intransigência, buscava afagar a face da dama da sábia flatulência. Sim, eu falo daquela que por qualquer coisa lutar se vale a pena. Daquela centelha de ânimo que se reacende toda vez que se vê um horizonte a lhe abrir os dentes. Daquele magma a se infundir quando, ao acordar, se tem a certeza de que viverá mais um dia novamente.
Ah, como queria, como queria que minhas letras fossem movidas pela lufada do sortilégio, do lirismo, da ductibilidade, da têmpera e da sofisticada simplicidade da poesia dos seus plásticos trabalhos, Ventania.
Sim, sinto o quão é vão meu verbo Sim, o sei estéril Mas, então, eu ouço um eco Um eco que não emana de mim ou de meu léxico débil Tal eco me faz depreender a grandeza do silêncio Esse eco não é qualquer eco Esse eco grassa continuamente no ar Esse eco é a voz do firmamento Esse eco é o próprio vento roçagando o tempo Esse eco é você, ideologia do vento Esse eco é sua arte, que me invade o corpo e me doma o en- torno do pensamento, até então, entediado, morto sem sê-lo, sem senti-lo, nem mesmo sabê-lo, na verdade. JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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