
LONGEVIDADE
Data 31/01/2008 14:40:52 | Tópico: Poemas -> Tristeza
| LONGEVIDADE
Aquilo que contemplo, através da televisão, são brados de socorro: brados ecoados por sulcos [Sulcos concebidos, a partir, da matéria vil do sofrimento. A viver, miseravelmente, de gotículas esparsas d’água e esporádicas côdeas de pão.
Vejo aquela hoste de sulcos dispostos em renques, filas a esperar, sob o abrigo solar, o altruísmo abominável duma estatal hóstia ultrajantemente Satânica, melhor, tão humanamente divina... divinamente humana]
Testemunho, com o mais profundo pesar, estes denodados sulcos que suportaram nas costas o sicário peso do erigir do processo industrializatório de um agrário país; Agora tratado como ícone do que é supra-anacrônico, do abjeto Moribundo!]
Entretanto, a televisão não quer e nem pode penetrar no âmago dos sulcos e, então, claramente ver a magnitude do estrago causado pela mordaz lâmina da natureza do desgosto. Não, porque, se assim o fosse, Ela perdão eternamente os rogaria... Perdão pelo ABSURDO que, afinal, não cansa de perpetrar um só dia!!!!!!
Mas não, essa humilhação não basta: não basta para saciar o parasita. Ele deseja que mesmo estafados e sem chance de trabalho, os sulcos laborem até o crepúsculo da sua dura vida [Enfim, sempre quase a morrer de fome e o pior de tudo: não tendo nem sequer um Réquiem de despedida deste aquosamente maravilhoso mundo!
Não esperava, mas sinto: sinto o agonizar dos sulcos; sinto o estertorar de pungência dos sulcos; sinto o empedernir do corpo sentimental dos sulcos. Não esperava, mas sinto: sinto um forte desejo de morte brotar dos sulcos desta humilde gente que trabalha. Trabalha e sofre muito]
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
|
|