
AMETISTA
Data 27/01/2008 17:08:12 | Tópico: Prosas Poéticas
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Eu estou a pensar e olho absorta. E em estado letárgico, desnudo meu anel que está num pote de vidro fosco e ondulado, e minhas mãos em bailado de dedos e unhas, tiram dele meus anzóis de cores e formas... É outono aqui, e o ladrilho da janela condensa sereno e poeira. Estou atordoada com o barulho dos carros, que passam na esquina de minha casa... A rotina das horas é a mesma...pelos meandros da vida, somos meras vestimentas... E meu anel ametista me olha quieto, tranqüilo e quase me suplica para tocá-lo. Eu teimosa e irremediavelmente indiferente, olho avessa a todas as suas formas... Dúbia vontade, meus dedos e ele, mas prefere o silêncio dos dias...nada fazem para sair da letargia... Nas páginas de um livro aberto, em que as orelhas estão vermelhas e rotas pela incerteza...Inebrio minha história em ametistas naturezas...cores d'alma. Não rabisco mais este livro, mas sim o leio, o permeio folha por folha, letra por letra, ponto por ponto...até chegar às traças que em traços mórbidos, corroem-no inteiro... Me distancio do vidro ondulado, e me preservo das insanas faces. Permito-me chorar, e é muito bom para alma...a garganta sopra purpúreas formas. Evoco as gaivotas do céu, e por imensas curvas viajo em rota direta...mesmo que apenas termine a viagem na penteadeira do quarto envernizada pelas imagens de meu retrato cansado e efêmero... Aqui jaz uma saudade!
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