
CENAS DO SERTÃO I
Data 26/07/2014 00:25:38 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Na terra árida, assolada pela longa estiagem, caminhei durante dias. Varei muitas estradas à procura de um gotejo d'água que pudesse desanuviar minha mente, refrescar os sedentos lábios, regar o estômago aflingente. Acreditei ser possível, quando olhos já marejados pela incerteza da penitente seca caíram descrentes sobre o baixio ressequido, perplexos diante do sulco visceral encravado na terra.
Arrasta-se o tempo neste motejo lugar, cenário dantesco, sarça e graveto fumegantes que arranham o ar cravando unhas no ceú na busca salvadora e apelativa do milagre chuvoso que possa cair. Água rojante e desabadoura só na memória calcinada, reminiscência psicológica de tempos invernosos, meu Deus. Mas a pestilência da estiagem corroi o sobejo de crença, a fé no Pai parece ser, é, réstia devoradora de desilusões ante o avassalador estio. Decerto acreditar é preciso até o último filete de fé, pois a esperança agonizante retumba e renova-se com o gotejar das primeiras águas do inverno no beirado da casa...
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