
Quintais do desejo
Data 26/06/2014 13:59:56 | Tópico: Poemas
| Sharon Stones da minha alma de saia curta bem me picam Descruzam pernas no meu texto como se eu não soubesse o que lá existe Já lhe chamei um búzio e ouvi nele o barulho de um porto: De barcos que partiam mal chegados De ruídos de sirenes, de apitos de cais, do descer chiado dos botes Do ranger celestial dos guindastes
O vento sempre me soprou nesse barulho de mar a liberdade Virando páginas dentro de mim Aproveitando velas içadas nos meus dedos de mãos abertas Mas houve vezes em que o ar se tornou insustentável até para as gaivotas Forçadas a romper os dias pelas ancas
Foi pelos dedos que lavrei a terra a cada vez que acostei Na enseada calma do teu corpo estendido Ilhéu descalço onde me coroaste rei
Com as tábuas do meu barco fiz casas para te morar Como quem cerca uma propriedade por dentro Nesse extenso egoísmo de terra-tenência que é amar
E depois, quando foi tempo novamente de largar amarras Derrubei as árvores que tinham nascido nos quintais do nosso desejo Para fazer um amor que fosse capaz de flutuar
Foi por isso que ainda não cheguei da viagem ao coração de uma mulher Perdido que estou, algures entre a partida e o caminho
in: «os poemas não se servem frios» 2010
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