
A muralha (Nicolás Guillén)
Data 05/06/2014 22:34:41 | Tópico: Poemas -> Intervenção
|  Para erguer esta muralha me tragam todas as mãos; os negros, suas mãos negras, os brancos, as brancas mãos.
Ai, uma muralha que vá desde a praia até a montanha, da montanha à praia, bem, lá sobre o horizonte.
- Tun, tun! - Quem és? - Uma rosa e um cravo... - Abre a muralha! - Tun, tun! - Quem és? - O sabre do coronel... - Fecha a muralha! - Tun, tun! - Quem és? - A pomba e o cravo... - Abre a muralha! - Tun, tun! - Quem és? - O escorpião e a centopéia... - Fecha a muralha!
Ao coração do amigo, abre a muralha; ao veneno e ao punhal, fecha a muralha; à mirta e à hortelã, abre a muralha; ao dente da serpente, fecha a muralha; ao rouxinol na flor, abre a muralha...
Ergamos uma muralha juntando todas as mãos: os negros, suas mãos negras, os brancos, as brancas mãos. Uma muralha que vá desde a praia até a montanha, desde a montanha até a praia, bem, lá sobre o horizonte...
* Nicolás Guillén (1902-1989), poeta cubano considerado genuíno representante da poesia negra de seu país. Seus poemas inspiraram canções de Pablo Milanés, na nova trova cubana. In: Sôngoro, Cosongo. Este poema foi traduzido por Thiago de Mello.
Imagem: Baía de Kotor, As velhas muralhas da cidade (Montenegro).
|
|