
Soneto da agonia batendo à porta
Data 16/05/2014 10:25:02 | Tópico: Poemas
| “ Quantos lumes reflete o iroso aspecto! À porta chega: ao toque de uma vara Abre-se a entrada do alcáçar infecto.
— “Ó turba vil, que o céu de si lançara!” — Ao limiar falou da atroz cidade, — “Donde vos vem da audácia a insânia rara?”
A Divina Comédia – Inferno – Canto IX
Preguiçoso, cortando as entranhas da brenha, entremeado um fluxo de água limpa refresca; torrentes balançando a grama giram a azenha, uma canção suave sobre a tela, qual arabesca.
Mas, anoitece agora acima do orbe tranquilo, um imenso manto havia sobre cada um de nós. Quem hoje será conviva da noite a pedir asilo, quem agora baterá sombrio na porta, tão grós? São as mãos crispadas ressoando a aldrava; depois duras as pancadas no carvalho vetusto do enorme portal, uma chave teimosa girava, deixando-o entrar, ao som de trovão robusto.
Mesmo sem nada dizer, sob a capa algo trazia, sem convite, à ditosa mansão adentra a agonia.
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