
Acne vulgaris
Data 03/04/2014 05:14:16 | Tópico: Poemas
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Este poema é um treino para não esquecer que posso brincar de Deus criando outros fatos para além da insignificância do meu status de criação desnaturada.
Crio fatos de letras que dizem a verdade sobre todas as mentiras e que mentem com sinceridade aos cegos que lerão.
Digo que crio, mas sou só veículo. Sou só palco.
A palavra desvairada é a variável certeira na determinação da minha quase-criação. A protagonista.
Haja verbo! Haja luz! Haja pus escondido sob minha pele no incomodo tátil de uma espinha imatura.
Este poema é isto. O apertar sôfrego dos dedos, avermelhando a pele em busca de um estouro com dor e promessa de alívio.
A unha cravada espremendo o pus da palavra. Estoure poema!
O poema começa torto como os anjos de Drummond. Tem a inocência daqueles que são paridos de um contexto ao outro pela força da contração.
A pereba da alma repleta de pruridos expele-se em palavra fora da pele do poeta.
Eu sou o poeta. Sou o pai do poema mas não responsável por ele. Sou um mero lócus louco por onde passam palavras espinhas, espinhos.
Depois de arrebentado, o rebento, poema, seca. Deixa, às vezes, uma marca como as de um talho de caco de fato criado, parido.
Finjo-me Deus novamente, quando acredito que decido que o poema acabe aqui.
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