
O menino e as bolas de gude
Data 25/03/2014 03:04:38 | Tópico: Contos -> Infantis
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O menino cavava os buracos no barro molhado pela chuva d'outono
O menino chamava os amiguinhos pro jogo à vera, de bola de gude
As búlicas estavam bem arredondadas pronto: os palmos foram bem tomados
Agora o esperado "par ou ímpar" e não vale mostrar depois uma das mãos
O mata-mata então começa na rua, Luizinho era quem tinha as bolas multicoloridas
O menino apontava ele era mudo, se ligava a cada movimento
A ele ninguém ousava enganar, opa! um passo em falso, a bola não caiu na búlica
Luizinho acusou o golpe viu que uma das bolas iria ser alvejada pela mira certeira
Então, resolveu recolher a sua bola disse que ela havia escapado dos dedos
O menino balançou negativamente a cabeça apontou o lugar do terreno onde a bola deveria estar
A confusão foi tamanha Os pais de Luizinho disseram que pagaram muito por aquelas bolas
E queriam o jogo fosse só "à brinca" mas o menino mudo não aceitou mudar a regra
Era um menino maltrapilho muito pobre, mas infalível no jogo da bola de gude.
Os outros garotos deram a razão ao menino mudo Mas, Luizinho não arredava não queria por a pedra no jogo
Então, em meio a discussão que já quase caminhava para uma briga, eis que chega uma senhora
Seus cabelos eram bem alvos, seus olhos eram brilhantes, de cegar...
Ela entrou na roda olhou para os garotos, E dirigiu-se para aquele menino mudo...
Tirou do bolso de seu longo vestido várias bolas coloridas coisa mais linda do mundo
Os garotos extasiados Os pais de Luizinho espantados Quando ela conversa em gestos Com o pobre menino mudo
A ele entrega as 12 bolas, Ele logo coloca nos dois bolsos de sua calça, um estava furado, elas caíram
Luizinho e os outros garotos Correram para pegar as bolas O menino mudo ficou brabo Começou a defender, a retomar
Cada bola que os garotos tomavam virava barro e esfarelava nas mãos para surpresa de todos
Então a senhora de mãos delicadas e olhar de fada agacha-se e acena a todos para que sentem-se e se aquietem
Ela então abre as mãos E como em um passe de mágica Vão se enchendo todas as búlicas com bolas coloridas
Ela pede para que cada um tente com sua própria bola de gude tirar cada bola da búlica, aquelas que conseguir serão suas
E aí, um a um, os garotos vão tentando, de forma limpa e divertida, ganhar as bolas que aquela estranha senhora trouxe.
Os pais de Luizinho o menino que tinha de tudo, mas não sabia jogar bola de gude continuavam intrigados, observando.
Enquanto isso, todos os meninos começavam a aprender com aquele humilde menino surdo a jogar limpo e a ver a destreza e seriedade
Que aquele menino - que nunca perguntaram o nome - e que chamavam de "mudinho" e que sempre vinha brincar com eles.
A mãe de Luizinho havia feito vários pingos de chuva e pão de mel.
Então, após uma troca de olhares com a alva senhora resolveram buscar o lanche e dividir com toda a criançada.
Porém, ao oferecerem um pingo de chuva para aquela estranha senhora a mesma sorriu e agradeceu
E pela primeira vez, dirigiu-lhes a palavra, perguntando se acreditavam em Deus?
Os pais de Luizinho - Onofre e Vinólia - acenaram que sim, eram católicos e iam a missa todo domingo.
A jovem senhora então disse-lhes que haviam testemunhado a generosidade de Deus
Ela disse-lhes que era uma missionária Em seguida, tomou as mãos do menino mudo
Enquanto ele recolhia as bolas de gude dele Luizinho se aproximou em lágrimas e beijou suas mãos
E pediu que ela esperasse E ao retornar trouxe seu par de tênis e uma jaqueta para o menino mudo.
A jovem senhora deixou-se invadir por grande emoção aplaudiu a atitude de Luizinho e despediu-se de todos.
Ficaram olhando perplexos E comovidos os garotos, O menino mudo e a senhora alva Caminhando até que...
Uma luz surgiu, repentinamente, a ponto de quase cegar, e nunca mais viram o menino
Quem seria aquela senhora de vestes alvas e íris celeste? Quem seria aquele menino maltrapilho que vinha brincar com eles?
Até hoje cada um faz as suas conjecturas, jogam bola de gude, sempre à espera do menino mudo.
Nunca mais fizeram pouco caso das crianças pobres e se engajaram em bazares.
Os pais de Luizinho adotaram um menino pobre como irmão que ele não tinha para aprender a dividir suas coisas.
E assim foram passando os anos, todos crescendo, ficaram rapazes, e foram para a cidade estudar
Um dia, Luizinho foi vítima de um assalto, o bandido ia tirar-lhe a vida, apontara o revólver em sua direção,
Os colegas de Luizinho estavam próximos, entraram em pânico, viam a vida do amigo por um triz.
Quando de repente, surge um menino e uma senhora alva que se interpõem entre o assaltante e Luizinho.
O assaltante começa a tremer deixa a arma cair, enquanto isso Luizinho atônito nem percebe quem acabara de interceder por sua vida.
Assim como da outra vez, no jogo de bola de gude, A senhora alva e o menino mudo Entraram e saíram de cena...
Os amigos de Luizinho Após prestar-lhe o socorro, Falaram da cena, que ele havia sido salvo pela missionária e pelo menino.
Mas quem seria aquela jovem senhora de vestes alvas? Quem seria aquele menino que ela conduzia?
AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 24-3-14.
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