
Sem Título 2
Data 15/01/2014 14:00:52 | Tópico: Poemas
| Cantam as túlipas. E busco um cristalino mar dum azul intensamente sensível.
Agora há-de sobressaltar-se gemendo na sua farpada dobra que me torce as unhas até esmagar a água em volta do corpo, por fora e dentro arbitrário, ao entrar e sair salva, como a luz florescente duma janela longínqua debaixo deste lento mar penetrante. E faz idênticas espumas polirem meu suspiro enquanto suavemente me afundo, sem ser-me ninguém, num mar de túlipas lavrado que se volta para as palmas de minhas mãos esplêndidas e me esvai toda a ferida e peso rubros.
Bato embaciando-me contra o sangue espesso das pedras a baterem no espaço vazio das pedras batidas pela eternidade viva. Batem-se as túlipas no estremecimento das pétalas contra o calor sob o vento elástico.
Concentrassem as gotas das coisas, das terras despidas, de órbitas em órbitas, mover-se-nos-iam para a desastrosa profundidade volumosa a inundar o que verdadeiramente nenhuma pessoa possui.
Amamos o corte da neblina encostando o vidro à cara num clarão louco. Sentimo-lo silencioso para ilustrar a destruição enquanto deixamos passar o horizonte lá longe a planar.
As entranhas mirradas a migrarem na concavidade nua são hoje as sorridentes túlipas a embalarem-me o fresquíssimo alvoroço, donde rítmico, regressei de dedos dados ao frescor como desponto.
Quem visse aquele pendurado cometa mole a incendiar-se em jacto escorregadio na copa das túlipas, seria uma qualquer rota pousada no seu caule rodopiante a colar-se à pele.
Tocas-lhe e queimas-te intensamente como queimaram um dia as túlipas no momento em que se desprenderam.
Enumero o lume por baixo e fecho-o pequeno.
Adormeço pela geada acima escrevendo o mar às túlipas surpresas.
Canta todo o alegre mar cristalino. Cantam as cores que vêm do fundo limpo de todas essas túlipas. Cantam túlipas em mim.
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