
Quando eu morrer
Data 24/12/2013 17:48:35 | Tópico: Poemas
| Quando eu morrer Me pesará a terra E não serei Qualquer coisa Diferente De seixos e pedras.
Quando eu morrer Não sentirei mais Qualquer carência E ainda serei matéria, Vida A segregar Purulenta.
Quando eu morrer Não sentirei Qualquer necessidade, Serei apenas A verdade plena Da caveira.
Quando eu morrer Deixarei de ser O que sou: Eu, indivíduo, Ser fechado E descontínuo Para me tornar Inorgânico Ao todo reunido.
Quando eu morrer Nada importará, Quem sou, Quem fui, Se vivi entre amigos Ou feras, Se fui luz Ou se fui treva.
Quando eu morrer Ninguém me pesará Para saber Se pesei Ou se fui leve,
Se cri Ou se sofri, Se neguei E fui feliz,
Se fui algo Além Desse ser Que vela, Espera E diz amém.
Quando eu morrer, Certo torpor Sentirei, Nuvens minha vista Nublarão E, enfim, Irromperei Na escuridão.
Quando eu morrer Nada verei, E de tanta vida e beleza. Não conservarei Qualquer promessa,
O rosto vão das certezas, O fogo da juventude Que nos inflama E ilude, O gozo e a chama Desse corpo De vicissitudes Que chora e ama.
Quando eu morrer, Nada verei, Nenhum senhor ou rei, Prato, juiz Que pesa e condena,
Serei defunto, matéria Que não revela Se vivi parco Ou deveras,
Se fui fraco Ou se fui forte, Mas apenas Que, efeméride, Ensaiei breve ato Para a morte.
Quando eu morrer Qualquer coisa serei Que não se pesa, Algo mudo, inerte Para alguém que reza E acende uma vela.
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