
Um Novo Natal
Data 19/12/2013 23:15:58 | Tópico: Textos -> Natal
| Havia despertado cedo. A noite tinha sido inquieta e o sono agitado. Acordara cansado, possuía o rosto suado, os sulcos violáceos á volta dos olhos acusava a fadiga da noite desassossegada. Levantou-se com dificuldade. Subiu o estore da janela do quarto e olhou o céu. Surpreso, viu que o sol brilhava já o começo do novo dia. Intuía que alguma coisa de anormal estava a acontecer, era como se um sexto sentido lhe acenasse algo de invulgar. E este sol, este estio, testemunhava a sua incerteza. Era Natal, época comummente de frio, em alguns lugares inclusive a neve dava um perfume especial á quadra, mas, invulgarmente ao habitual estava uma manhã de estival. Intrigado e curioso, arranjou-se e saiu á rua. O sol ainda jovem acariciou-lhe o rosto barbeado, o que lhe despertou maior apreensão. Estranhou também a ausência da neblina causada pelas chaminés e da essência frequente das lareiras. Iniciou a caminhar pelo passeio a descer a rua. Preocupado, olhava furtivo ao seu redor. Todo o seu rosto era incredulidade. Tudo era silêncio. Não acontecia aquele burburinho das filas para as compras, para os presentes, para o bacalhau, para o marisco e para os doces. Ao contrário do que era prática, nas caixas ATM não faltava dinheiro. As pessoas passavam e desejavam bom Natal… boas festas. Mas não era aquele retinir de bom Natal hipócrita usual, em que o hálito de amor passava e o resto do ano esgrimiam conveniências, lucros e ganhos desonestos. Não era aquele desejar falso de Natal, em que as guerras de interesses se entrincheiravam, em que as quezílias retornavam, assim que a quadra passasse. Depois, seguidamente chegava dezembro, o mês do armistício, a hipocrisia regressava e o amor espalhava-se. Não! Não era esse desejar de Natal! Era um Desejar de Natal franco, sincero e cheio de amor. Caminhava pelas ruas e o desconforto inicial principiou a falecer. As pessoas falavam-lhe de uma forma franca, leal, de uma forma afetuosa, com sentimento puro na voz. O dia pareceu-lhe mais limpo, o sol pareceu-lhe brilhar com um brilho diferente, começou a sentir-se bem, sorriu, pareceu-lhe que respirava autêntica paz. Foi com gáudio que contemplou que o Pai-Natal não vinha gordo, empanturrado de bacalhau, de marisco e de doces. Não aparecia carregado, com dificuldade em andar para entregar os presentes aos meninos ricos, presentes caros, esquecendo-se das crianças pobres, desfavorecidas, que passavam frio, que passavam fome e que nada tinham. Crianças que não imploravam consolas ou computadores, não rogavam telemóveis ou bicicletas, bradavam apenas em silêncio um casaquinho, um cobertor, meias, sapatinhos e uma sopinha para aquecer a alma. O que viu foi um Pai- Natal isento, um Pai- Natal que não diferenciava os ricos dos pobres, um Pai-Natal que em lugar do saco dos presentes, trazia o coração cheio de amor, e oferecia esse amor com a mesma simetria para com todos. As pessoas acercavam-se dele e mostravam-lhe um mundo novo. Um mundo onde a ganância, o odio, as aversões, as antipatias, as lutas e as guerras de interesses haviam sido descontinuados. Um mundo em que todos juntos haviam extinguindo a pobreza, a fome, a violência. Um mundo em que a lei era o amor. Um mundo em que as coisas anteriores haviam passado. O coração encheu-se-lhe de gratidão e alegria. Sorrindo, com as mãos nos bolsos, seguiu a assobiar uma canção de Natal.
Queria tanto ser poeta, Falar do mundo… Do amor Porque não da dor? Do sofrimento? Da injustiça então… Enfim, falar do meu sentimento
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