
Poema descartável
Data 06/08/2013 18:31:55 | Tópico: Poemas
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É preciso levar os outros a sério. O semelhante, amado ou odiado, propriamente, deve ser sempre a gota d'água da tempestade no copo.
É preciso encarar os fatos das faces que se fazem a cada interação. Ninguém sai ileso de um encontro, não.
Levamos os outros a sério para que nos levem seriamente. E fazemos poses de topografias coreografadas aprendidas no imaterial manual sobre como ser pessoa.
A resposta está no outro, em todos outros. Personagens imperfeitos refletidos no meu espelho social.
Ser ou não ser não é a questão. Ser é sina. Até que o pulmão enjoe de ar, até que o sangue deixe de o coração disparar.
É no ato de embrenhar-se na profissão de ser que a questão instituiu moradia. O X da questão. O imposto cobrado pela propriedade de um instante-já.
Eu os tenho todos, voláteis, fluídos, evanescentes e infinitos, inseridos no tempo e espaço de mim, como lócus.
Eu sou, pertenço e tenho direitos autorais de cada instante que participo.
Posse fátua, porém única. O passado não nos pertence, o futuro é imaginação da infinitude do instante imediato.
Futuro é querer. Não fazemos o que queremos, não queremos o que fazemos... Naveguemos! Nesse rio vida que corre eterno e a cada passo é um novo rio.
Continuidade quântica. Eu quero beber o rio e engasgar de vida.
Eu quero a musa Polímnia em inspiração de polidipsia.
Tudo isso aqui é sério!
A mulher que me vende o pão, o motorista do caminhão, aqueles a quem digo não, por não ter trocados (só cartão).
Todos aqueles a quem pensei entregar o coração, os inimigos, o irmão. As filas de banco e as pessoas paradas na estação.
Tudo é sério para poder ser e apodrecer como é no manual, a contingência social, a estrutura da moral, para além do bem e do mal... até Nietzsche é sério! Assim como o louco, no hospital.
Não leve esse poema a sério. Ponto quase-final.
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