
A Vida na Hora (de Wislawa Szymborska)
Data 07/06/2013 14:25:30 | Tópico: Poemas
| A vida na hora
A vida na hora. Cena sem ensaio. Corpo sem medida. Cabeça sem reflexão.
Não sei o papel que desempenho. Só sei que é meu, impermutável.
De que trata a peça devo adivinhar já em cena.
Despreparada para a honra de viver, mal posso manter o ritmo que a peça impõe. Improviso embora me repugne a improvisação. Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas. Meu jeito de ser cheira a província. Meus instintos são amadorismo. O pavor do palco, me explicando, é tanto mais humihante. As circunstâncias atenuantes me parecem cruéis.
Nao dá para retirar as palavras e os reflexos, inacabada a contagem das estrelas, o caráter como o casaco às pressas abotoado - eis os efeitos deploráveis desta urgência.
Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez! Mas já se avizinha a sexta com um roteiro que não conheço. Isso é justo - pergunto (com a voz rouca porque nem sequer me foi dado pigarrear nos bastidores).
É ilusório pensar que esta é só uma prova rápida feita em acomodações provisórias. Não. De pé em meio à cena vejo como é sólida. Me impressiona a precisão de cada acessório. O palco giratório já opera há muito tempo. Acenderam-se até as mais longínquas nebulosas. Ah, não tenho dúvida de que é uma estreia.
E o que quer que eu faça, vai se transformar para sempre naquilo que fiz.
(tradução de Regina Przybycien)
Eu acho que a grande poeta polonesa Wislawa Szymborska, Nobel de Literatura em 1996, merece fazer parte dos Classicos no Luso. O que vocês acham disso?
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