
Memórias de Uma Insana VII – Dissimulação
Data 24/05/2013 16:52:14 | Tópico: Contos
|  Foto Betha Mendonça
Memórias de Uma Insana VII – Dissimulação by Betha Mendonça
Quando livre da catatonia retornei as conversas com o doutor. Ainda me incomodava a contenção. Tratei de ser o mais colaboradora possível com a equipe do setor psiquiátrico quatro, para ter as mãos e pés soltos de novo.
No dia em que finalmente consegui que me retirassem as amarras, assim que dei com meus membros soltos, puxei da veia o cateter, tirei do nariz a sonda com a qual era alimentada e tentei correr dali. Como reflexo vomitei todo acolchoado do chão e cai estatelada, por causa das pernas com musculatura fraca, tanto pelo tempo que passei deitada quanto pelo peso dos medicamentos.
O doutor foi severo comigo. Afirmou: se quebrasse novamente nosso trato voltaria para contenção. Que eu precisa me responsabilizar pelos meus atos e suas conseqüências... Como se eu me importasse com isso!...Só não queria era ficar presa ao leito de novo, agora que ultrapassara a catatonia...
Ensaiei um pranto profundo e arrependido. Acusei vozes de terem me levado àquela atitude desvairada. Eu faria o possível para que não se repetisse. Convenci a todos e quase convenço até a mim que estava sendo sincera.
Como minha mãe dizia: o castigo vem a cavalo. Naquele mesmo dia o meu chegou “montado” num zumbido nos meus ouvidos que ressoava por todo meu corpo. Fazia vibrar por dentro cada órgão e parte minha. Era como um silvo de cigarra de uma nota só. Desejei esmagar a cabeça como a uma noz, mas as paredes fofas não permitiriam que me batesse contra elas. Tive que me queixar ao doutor para que ele resolvesse aquilo para mim. Ele resolveu: mandou me doparem e eu apaguei. Homem bom o doutor.
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