
Onde o cheiro se faz morte
Data 14/05/2013 13:17:37 | Tópico: Poemas
| A partitura serenou o espírito De quem se encontrou com a verdade Mas a mentira cobriu a verdade Fez-lhe um filho sem idade
(As mentiras fazem-lhe agora tremer os olhos)
Ouviam-se sons vindos de um lugar secreto Onde as bocas engoliam todas as notas soltas Soltavam-se por todas as encostas nuas Onde já nem as pedras choram E nem os animais se tocam
A humanidade parece-se Com uma maçã podre Dentro de uma cesta de vime Que faz da cesta de vime Uma esteira onde o cheiro se faz morte Como se a morte fosse Só uma mão aberta Para a fome
Têm os infelizes as letras todas Para formarem novos nomes Têm as pautas abertas e os saxofones prontos Para soprarem para dentro deles Como se fossem pães acabados de sair do forno
São todos eles, uma chusma no cangaço Uma comandita a querer pisar o morro Que desmiolado se vai definhando E até se acabar Chora a dor de não poder sair E evaporar-se para outro lugar
Cantam às almas lá para os lados Do sítio, onde morreram todos os lobos Que, famintos desceram a encosta A espumarem pela boca
Todos se encolheram até que chegasse A primavera e lhes desse mais um pouco De chão para cobrir Tal como os bois cobrem as vacas E os carneiros, as ovelhas E os homens, as mulheres E os galos, as galinhas
A cacarejar lá vão elas de asas ao vento Até que a fome as leve como quem leva um coelho Pelo cangote sem pelo
São os ventos e as brisas E as flores que nasceram já Em todas as árvores
São os filhos das partituras Que pediram para nascer Nos caminhos Onde há bosta para pisar Ou até para rasurar alguma Obra de arte Que irá nascer ainda De verdade
Dakini "Eventos"- Maio 13
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