Soubera eu Ser poeta Ou poetisa Como também se diz
E não me desolaria tanto Com o branco Desta folha nua...
Talvez escrevesse sonhos Desejos Magias Segredos Ou degredos Que por vezes Me povoam Os pensamentos E me adornam os dias Até os mais cinzentos
Porém... Não sou capaz!
A poesia É dos que a transpiram Que a fazem sua Nas madrugadas claras E caladas Sejam Verões quentes Ou Invernos chuvosos e frios Não importa muito... O que importa sim É o acto em si Em que o poeta e sua amante Se embrenham um no outro E se entranham Consumando aquilo que alguns apontam Como um acto ilícito Mas que importa isso?! Se eles o fazem Ali mesmo Sem pejo Nem preconceitos Sem testemunhas Que os incriminem!...
Não...! Desenganem-se aqueles Que a pensam sua Só porque a roubaram dos outros Os desacautelados Que a deixaram ao abandono Num qualquer algures Mas que a reconhecem de imediato Mesmo que vestida de outra cor Que não aquela com que a deixaram E que a sabem sua Para todo o sempre Esteja ela onde estiver!
Mas também não é daqueles Que a desprezam Com crueza Com frieza E arrogância Logo após a serventia Qual prostituta barata Da antiga rua direita Da cidade de Coimbra...
E com tudo isto Só agora reparei Que me enrolei No fio da meada Que me trouxe até aqui
Foi já tanto O quanto divaguei Que me esqueci E já não sei Ao que realmente vim!
Ah! Já sei! Dizia eu... Que talvez escrevesse sonhos Desejos Magias Segredos Ou degredos Mas porque será que não consigo Derramar nesta simples folha Tudo isso?! Fogem-me as letras Das palavras doces E fico sem saber Como as escrever... Por isso Fico-me com a raiva Presa ao que não escrevo E ao azedo Do arroto que me saiu sem querer
E fito a folha Que me sorri com desdém E que continua aqui Bem diante de mim Assim... despida... Sem vergonha Nem culpa Visto que essa Essa... É só minha!

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