
Uma vez Só
Data 02/02/2013 17:18:05 | Tópico: Textos
| Eu vou facilitar a morte do desejo de amar os teus olhos que são eternos. Não existe mais nada pior para mim do que a mágoa de me veres cair de exaustão, e nada fazeres para impedir a queda. Ainda assim, a tua forte presença é sentida pelos meus poros, como uma borboleta atraída pela luz numa noite escura e fria. E eu sinto que em tudo o que faço enalteço uma parte de ti. Nos meus gestos com os teus gestos, e na minha voz com a tua voz. Jamais te quereria possuir, porque dentro de tudo que é o meu ser, acabaria de forma drástica. Só pedia para que surgisses perante mim como a fé nos desesperados, e só por si basta o "acreditar" e vencer com coragem! Só queria levar uma pequeníssima gota comigo, nesta imensidão de oceano amaldiçoado que ficou tingida no meu ser como uma nódoa do passado. Eu vou facilitar a morte do meu eterno desejo, onde tu continuarás e encostarás a tua face numa outra. Os teus dedos meigos irão de novo entrelaçar noutros dedos e tu renascerás... Poderás um dia saber quiçá, que quem te chorou e acolheu no silêncio de uma lágrima fui eu. Porque eu encostei a minha face na face dessas noites, e conseguia ouvir-te falar comigo. Porque meus dedos entrelaçaram-se sozinhos, agarrando esse ar que pairava à minha volta. Eu trouxe comigo inevitavelmente o rosto gravado do teu silêncio e do teu abandono desonesto. Ficarei só como os velhos navios naufragados em baías desconhecidas. Mas eu vou-te possuir talvez como nunca o fizeram, porque vou partir. E que todas as minhas piores lamentações sobre oceano, dos navios, da noite, das borboletas, do ar que respiro... sejam as do teu ser, da tua voz ausente, a tua voz que ainda barulhenta, serena irá permanecer.
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