
O PESCADOR DE SEIXOS
Data 05/12/2007 14:10:19 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| O PESCADOR DE SEIXOS
Na vida, sempre caminhei sem realmente fazê-lo. Vivendo entre a exsudação da alegria e o amargor do sangue escorrido da decepção, que brotando, Subjugava o meu peito em agonia.
Caminhar sem realmente provar o sabor do caminho com os dois pés: daí decorre todos os meus muitos desgostos posteriores. É como se a cada não de namoro, de amizade mais intensa; sobreviesse um sim da misantropia, da tristeza, da solidão ferina, quase indigesta!
Entretanto, como que tomado pelas mãos do auspício, passava a sentir a pulsação do ânimo sempre quando ia ao encontro dos livros, da poesia, do feitiço. Enlevo que vinha á tona ao me chafurdar no universo temático da patologia: a ter contato com as mazelas, desventuras, desilusões e padecimento [Padecimento de um oprimido povo. Uma gente que, mesmo vertendo um oceano de lágrimas dos olhos, desafia a subsistência e segue em frente, a viver, como pode, cada instante do seu dia.
Depreendi o quanto eu estava aprisionado numa masmorra de egocentricidade, mesquinharia, tola vaidade. Pois os meus problemas representam uma pequena gota inócua caída ante uma tempestade [ Novas e letais tempestades no deserto a ceifar os inocentes filhos do Senhor Islã, chamado, por nós, de Oriente Médio!
Então, assim, num repente de pensamento, descobri poder dialogar com as minhas dificuldades; dialogar com adversidades alheias; dialogar com as infinitas dimensões da filosófica consciência. E, uma vez inserido dentro delas, em seu âmago, colher flores ornadas de olor petrificante de aporia. Banhar-me nas águas petrificantes de aporia. Contemplar o jazer da ignescência solar petrificante de aporia. Pescar os tubarões petrificantes de aporia [Ser o pescador das sensações petrificantes da humana aporia, as quais não se recolhem ao reverberar da noite; Nem tampouco ao despontar da aurora. Porque são imunes ao hermetismo da natural mediocridade. Desse modo, vivem insones]
Então hoje caminho feliz, sem caminhar a bem da verdade. Caminho feliz, sem poder caminhar por saber quem sou de verdade [Sou aquele que pesca a essência daqueles que não podem falar. Daqueles que se furtam em reconhecer a natureza do seu próprio ser: Da sua própria humanidade. Pois é aí que se assenta o não caminhar verdadeiro. Este sim, é aquele de quem devemos ter medo. Afinal, será apenas dessa forma que expugnaremos a tão sonhada liberdade... Sim, plenamente, na verdade... Sim, não havendo mais fantasmas, perversos sonhos. Pesadelos de vertica- lidade!
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