
Versos úmidos
Data 09/12/2012 20:25:22 | Tópico: Poemas
| No rio hierático e cativo da poesia dormitam todos os sonhos que eu não soube sonhar cabem todos os sígnos e tantas outras palavras cuja simples expressão faz o tempo difuso flutuar e os dias e as noites perpassarem implacáveis nos vales onde correm e soluçam as águas perenes e avermelhadas dos rios que choram e suspiram ao ouvirem as pétalas dos versos que caem e pelo perfume da névoa umedecendo o sussurro da aragem ondulando no bambuzal
Nesta brisa soprando nas noites azuis evolam-se estrelas deitando fagulhas ao vento urdindo nuvens de algodão e abrindo o remanso onde cabem os meus silêncios quietos e vulneráveis cabem estes ecos de nostalgia e aonde acorre meus olhos buscando teus passos nas tardes iluminadas pela ternura transparente e comovida de um sol caminhando para a noite sem sono e onde uma lua derramando prata admira na inquietude da madrugada os sinos a dobrarem as horas e a voz do vento doce e distante
Nesta chuva turva que embaça o dia lanço barquinhos de papel Ouço saudades tamborilando no telhado no plim plim plim dos pingos pingando É final de primavera O ypê já floriu e suas flores pequenas cobriram o solo em sombras amarelas brancas luas ametistas roxas A noite treme sobre o mar e o vento recita versos solitários de sal e séculos na noite que freme sobrer o mar No poema que se abre e fere a tua lembrança morre um menino pequeno viajante de tempos e de sonhos tão pequeno e já envolto em solidões tão pequeno para a angústia dos séculos corpo sem alma guarda sua lata de barbante e areia para o incognoscível amanhã
Nestas mãos que amalgamam o ar em busca de desertas madrugadas cabem o anjo e o aroma angelical dos jasmins cabem a voz da flor e a aurora que resplandece em ouros e azuis
Nestas mãos que tocam o noturno escuro e vário e que tocaram teu rosto enlaçaram a tua mão acarinharam teus cabelos acenaram um adeus no vento triste de uma tarde sem nome nestas mãos ficou a nívea flor dos teus seios e todo o lento silêncio que embebe a poesia
Estas mãos, molhadas pelas chamas das lágrimas, não sabem da saudade que eu sinto dos caminhos que andei sob espelhos A imagem invertida fazia voar meus pés
Estas mãos... Estas mãos não sabem da saudade que eu sinto da noite negra dos teus olhos Nem estas mãos nem os anos todos que passaram, nem as estrelas que cairam sobre o caminho de pedra enquanto eu te esperava nem as noites nas quais teu beijo não era meu
E na rua, entre teus braços, a noite escondia a eternidade A lua, lírica esfera sob o pêndulo negro do céu, vestia de cinza o extenso mar cortado pelas ondas e entregue às terras pelas marés As águas erram na penumbra indecifrável que a tua ausência deixou e levam consigo as canções e os versos, sem métrica e sem limites, com os quais te amei
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