
Despojos
Data 12/10/2012 20:46:56 | Tópico: Poemas
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Dos tempos de escola já muita coisa esqueci de tudo quanto aprendi. As resmas de compêndios e teoremas que nos enchiam a cabeça com aquilo que precisávamos decorar e que nunca nos serviu para nada esfumaram-se no crepitar das fogueiras que abraçam a pedra do esquecimento com longos braços de névoa.
Perdi o rasto ao nome dos reis que cerziram com heroísmo a manta do nosso destino exaltado e a todos os rios e afluentes que nunca cheguei a conhecer e que desaguam agora num rumor de sombras adormecidas. Já não recordo as fórmulas míticas de um futuro que nunca se libertou da ardósia negra dos quadros e do movimento persistente dos apagadores traçando um obscuro ritual.
Sobrou apenas desses tempos o eco monocórdico das tabuadas repetidas até à exaustão, a luz inocente dos pátios onde os sonhos ganhavam secretas asas nos intervalos do cativeiro e o mistério dos teus olhos de menina a esvoaçar numa nuvem de pó de giz.
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